Angelo Giuseppe Roncalli nasceu em Bérgamo a 25 de novembro de 1881 (faz agora 139 anos) e morreu em 1963 na Cidade do Vaticano. Ingressou no seminário, viria a tornar-se núncio apostólico, patriarca de Veneza e, mais tarde, Papa com o nome de João XXIII. Em 27 de abril de 2014 foi canonizado pelo Papa Francisco. O processo de canonização de São João XXIII teve uma importante particularidade: foi aprovado sem a confirmação da realização de um segundo milagre por sua intercessão. Juntamente com um exemplo cristão de vida, a confirmação de dois milagres realizados através da intercessão é condição para concluir o processo de canonização.
Angelo Roncalli teve um pontificado curto, menos de cinco anos, de 1958 a 1963. Devido à sua idade já avançada e estado de saúde frágil, no momento da sua eleição foi encarado como um Papa de transição. Foi, por isso, com grande surpresa que foi acolhida a notícia da convocação de um concílio ecuménico, o Concílio do Vaticano II, que viria a mudar a vida da Igreja, aproximando-a dos fiéis e reforçando a sua participação litúrgica.
Roncalli ficou conhecido como o Papa da Bondade ou o Bom Papa João. A ternura no modo de falar e a mansidão conjugadas com o sentido de humor e a firmeza para implementar mudanças, caracterizavam-no. Parece um contrassenso. O seu lema papal também poderia criar alguma perplexidade: obediência e paz. A paz que lhe advinha da obediência a Deus, como uma fidelidade e caminho de vida que lhe traziam serenidade. Este lema papal conduz-nos ao texto das Bem-aventuranças: “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra, bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.”
A ternura de João XXIII manifesta-se de forma ímpar no célebre Discurso da Lua, proferido na Praça de São Pedro na noite da abertura do Concílio no qual o Papa convida os fiéis a contemplar a Lua e fala de carinho, sem ter medo das palavras. Com um despojamento e uma doçura que lhe eram características. Convidando todos os pais ali presentes a abraçar os seus filhos em nome do Papa quando regressassem a casa.
A doçura do seu modo de ser espelhavam o rosto de Deus. A firmeza das decisões que tomou enquanto papa e núncio apostólico, são a prova plena de que a retidão, a justiça e a autoridade não são incompatíveis com a mansidão e o sentido de humor. Pelo contrário, o sentido de justiça, as decisões importantes só se compatibilizam com o compromisso cristão quando exercidas com doçura, profundo sentido de cuidado pelo próximo e um condimento de boa disposição.
Angelo Roncalli não precisou de ter dois milagres reconhecidos para se tornar santo. A santidade não constitui uma obrigação de resultados, mas de meios. Essa é uma das principais lições de Roncalli: um sentido de compromisso com doçura é a maior sementeira de graças.
Sofia Távora é jurista e voluntária no Serviço de Assistência Espiritual e Religiosa do Hospital Dona Estefânia.