D. Jorge Ortiga foi nomeado arcebispo de Braga em 5 de junho de 1999, e solicitou a sua substituição em 2019, ao completar 75 anos. Estando para breve a sua substituição (já correm vários nomes de candidatos),e tendo em conta a importância da diocese de Braga no panorama católico português, o 7MARGENS lançou um curto inquérito a pessoas da diocese de Braga sobre o perfil que desejariam ver para o novo arcebispo, em termos de qualidades humanas, sociais e eclesiais. Num primeiro texto da série, recordámos o que se passou em 1999, quando a nomeação de D. Jorge Ortiga pelo Papa João Paulo II foi antecedida por uma movimentação de leigos da arquidiocese, no sentido de dizer que perfil deveria ter a pessoa escolhida.

Alexandre Gonzaga, jornalista.
Iniciamos hoje a publicação dos depoimentos. Este é o de Alexandre Gonzaga, jornalista e leigo da arquidiocese de Braga.
A bênção extraordinária “Urbi et Orbi” concedida pelo Papa Francisco, em março, na Praça de São Pedro completamente vazia, é uma das imagens que marcam o ano em curso. Simbólica, delimitou claramente o mapa das prioridades da humanidade e da própria Igreja Católica, assinalando um novo ponto de partida na reaproximação das pessoas, na luta pela dignidade humana e no vital respeito pela natureza.
A oração do Papa sublinhou a importância de se “redefinir o curso da vida” em tempos de pandemia do novo coronavírus. Envolvido pela frieza da grandiosidade monumental do Vaticano, Francisco apontou com esperança para a difícil tarefa de superação de uma crise à escala planetária.
Consciente que os ciclos económicos são cada vez mais curtos e que o período difícil em curso acabará por atingir inevitavelmente os mais vulneráveis, o Papa constituiu a Comissão do Vaticano para a covid-19, “um mecanismo de análise e reflexão sobre as consequências sócio-económicas, culturais, políticas e espirituais da pandemia”, e que tem implicações práticas na vida eclesial.
O líder do projeto, o padre argentino Augusto Zampini, realçou em entrevista ao jornal italiano La Stampa que “não podemos repetir os erros da crise de 2008”, num mea culpa que também acabou por desafiar a Igreja Católica a coordenar melhor a ação social dos seus setores, movimentos e fiéis. Francisco sinalizou, assim, que a fórmula do costume (social e eclesial) não basta e convidou, implicitamente, as dioceses de todo o mundo a reavaliarem as suas prioridades pastorais para serem sinais credíveis e concretos de esperança ao longo deste ciclo difícil.
Bergoglio acenou, com espírito sinodal, para uma nova simbologia no contexto da crise económica em curso provocada pela pandemia. Oportuno, pediu gestos contundentes e proféticos que desencadeiem ações sociais decisivas e comportamentos eclesiais condizentes que se perpetuem no tempo, ou seja, uma nova linguagem que “diga” mais do que as manifestações e as aparições públicas constantes e repetitivas de alguns responsáveis eclesiais e eclesiásticos.
Tal como Francisco, o próximo arcebispo de Braga não só herdará a complexidade desta igreja particular, o seu peso histórico, património cultural e a sua monumentalidade, mas também um Baixo Minho em depressão, com taxas de desemprego significativas e empresas em dificuldade devido à covid-19.

Sé de Braga: “Importa que o futuro arcebispo emita sinais concretos de que o objetivo da próxima etapa seja preferencialmente social.” Foto © DACS (Departamento Arquidiocesano das Comunicações Sociais), cedida pelo autor.
Depois da aposta infraestrutural assumida nas últimas duas décadas (o Espaço Vita é o exemplo mais recente, com o anúncio, no início deste ano, da transformação da área envolvente no novo quarteirão cultural arquidiocesano), importa que o futuro arcebispo emita sinais concretos de que o objetivo da próxima etapa seja preferencialmente social. Sem dúvidas ou compassos de espera pela sucessão apostólica (o Papa Francisco tem 83 anos de idade), pois, as assimetrias territoriais exigem um esforço urgente e dedicação permanentes. Caberá ao responsável eclesiástico congregar e liderar aqueles movimentos e leigos especialistas na área social.
Se a opção pelos mais pobres e vulneráveis é um imperativo evangélico, interessa, por isso, que o próximo arcebispo aposte decisivamente na formação dos leigos e assuma que só se conseguirá vislumbrar os resultados do caminho percorrido no prazo médio de uma geração (alguns párocos e movimentos poderão partilhar a sua experiência na formação de adultos, num “partir pedra” lento mas necessário…).
Desse processo resultarão lideranças laicais avessas a protagonismos estéreis e cargos permanentes (cópia do carreirismo eclesiástico legitimamente criticado), e, por isso, contrárias a uma igreja clericalizada e ritualista que ainda persiste nalguns círculos bracarenses e que torna fria a herança histórica, monumental e litúrgica da arquidiocese.
Amanhã: Depoimento de Ana Maria Pinto, militante da LOC/Movimento de Trabalhadores Cristãos e ex-acompanhante do Movimento de Apostolado de Adolescentes e Crianças