D. Jorge Ortiga foi nomeado arcebispo de Braga em 5 de junho de 1999, e solicitou a sua substituição em 2019, ao completar 75 anos. Estando para breve a sua substituição (já correm vários nomes de candidatos), e tendo em conta a importância da diocese de Braga no panorama católico português, o 7MARGENS lançou um curto inquérito sobre o perfil que várias pessoas da diocese desejariam ver para o novo arcebispo, em termos de qualidades humanas, sociais e eclesiais.
Num primeiro texto da série, recordámos o que se passou em 1999, quando a nomeação de D. Jorge Ortiga pelo Papa João Paulo II foi antecedida por uma movimentação de leigos da arquidiocese, no sentido de dizer que perfil deveria ter a pessoa escolhida.
A seguir, fica o sétimo depoimento, do grupo de Braga referenciado ao Metanoia – Movimento Católico de Profissionais.

Celebração na Sé de Braga: “Lamentamos que os leigos e, em geral, todos os membros da Igreja não sejam chamados a participar na escolha de quem os lidera e que este processo continue a ser sigiloso.” Foto cedida pelo DACS (Departamento Arquidiocesano das Comunicações Sociais).
Quando, em 2013, o Papa Francisco deu os primeiros passos no seu magistério, houve quem sublinhasse, provocatoriamente, que tínhamos um cristão a exercer o ministério de Pedro. É também esse estilo de ação franciscana que gostaríamos de ver no sucessor de D. Jorge Ortiga na condução da vida da arquidiocese de Braga. Que ele seja, desde logo, um “perito em humanidade”, nas palavras e nos gestos, no estilo de vida, no modo de ser líder.
Nesta linha, interessa à Igreja de Braga um arcebispo que tenha uma casa aberta a todos e transparente nos processos, nas opções e nas finanças. Do mesmo modo, que seja particularmente cuidadoso e claro na gestão da diocese, incluindo a sua componente patrimonial, e que preste publicamente contas das contas da arquidiocese, exigindo, ao mesmo tempo, essa prática de transparência nas paróquias e outras instituições da Igreja (confrarias, centros de peregrinação, fundações, etc).
Diz-se que uma pessoa culta é alguém capaz de analisar uma situação ou problema de múltiplos pontos de vista, ainda que tenha o seu e o enriqueça no diálogo com a diversidade do mundo em que vive. Numa diocese com vários polos universitários, esperamos uma pessoa que, além da simplicidade, seja culta e aberta ao mundo, numa mão o evangelho de Jesus e na outra a proximidade com a vida das pessoas, de todos os ambientes sociais e culturais.
No campo artístico e estético, vale a pena prosseguir e alargar projetos como os das capelas Imaculada e Cheia de Graça (no Seminário de Nossa Senhora da Conceição) e a da Árvore da Vida (no Seminário Conciliar de São Pedro e São Paulo), em Braga, entre outros casos de inovação na arte religiosa. É fundamental, porém, garantir que os projetos iniciais dos criadores sejam integralmente respeitados, bem como promover o alargamento do acesso àquelas obras de arte e dos horizontes do gosto da generalidade dos fiéis, de modo a que os caminhos inovadores não se reduzam a grupos e círculos restritos.
Na pastoral, é necessário alguém que, no exercício da palavra e numa sociedade pós-cristã, leia com desassombro as situações e os problemas da sociedade, sobretudo dos grupos mais marginalizados, à luz do evangelho e da doutrina social da Igreja, com uma linguagem desempoeirada e inteligível e sem enveredar por moralizações simplistas. Enfim, alguém que, naquilo que diz e faz, faça caminho com os que sofrem o abandono, o medo ou a injustiça e seja promotor da fraternidade.
Enquanto grupo de cristãos de Braga não pretendemos fazer uma listagem completa de qualidades e capacidades que um novo arcebispo deste tempo deveria reunir. Estamos, por outro lado, conscientes de que também não pode ser algum autóctone ou ‘paraquedista’ bem intencionado que chegue a Braga e não seja capaz de ouvir as diferentes sensibilidades e de trabalhar em equipa.
Lamentamos que os leigos e, em geral, todos os membros da Igreja não sejam chamados a participar na escolha de quem os lidera e que este processo continue a ser sigiloso. Lamentamos igualmente que o universo de escolha de quem assegurará a comunhão na comunidade eclesial continue enfermo de uma incompreensível discriminação de género. Esperamos que o próprio arcebispo cessante venha a ser um promotor dessa participação, no futuro.
Um grupo de pessoas que se referenciam ao Metanoia – Movimento Católico de Profissionais, constituído por Armando Romano, Cristina Fabião, Helena Martinho, José Carlos Espírito Santo, José João Almeida, Luís Soares Barbosa, Luísa Alvim, Manuel Pinto, Margarida Constantino, Maria Antónia Forjaz, Pedro Sousa, Sara Pereira.
Amanhã: depoimento de um pároco de uma paróquia urbana da diocese de Braga.
Depoimentos já publicados: Alexandre Gonzaga (jornalista), Ana Maria Pinto (militante da LOC/Movº de Trabalhadores Cristãos), Luís António Santos (professor universitário), Deolinda Machado (professora e militante da LOC/MTC), grupo de Mire de Tibães do Movimento de Apostolado de Adolescentes e Crianças e Miguel Bandeira (professor).