
A Capela do Santíssimo Sacramento, em Fátima, é conhecida como “capela do silêncio” e está aberta ao público. Foto © Joaquim Franco.
Sem pausa, há mais de 60 anos, um grupo de crentes reveza-se, de hora a hora ou de duas em duas horas, para garantir um louvor contínuo na Capela do Santíssimo Sacramento, em Fátima, um espaço procurado não apenas por católicos, mas também por “inquietos”. Na narrativa dos acontecimentos de 1917, conta-se que foi pedido aos videntes, os pastorinhos, que se dedicassem à oração para reparar as ofensas do mundo.
À margem das multidões, dia e noite, há um cíclico movimento discreto de crentes, sobretudo mulheres, que se dirigem à capela, atualmente localizada na galeria dos Apóstolos, um corredor subterrâneo do complexo da Basílica da Santíssima Trindade, no topo oeste do recinto do santuário.
Nesta reportagem, a TVI acompanhou a rotina orante da Congregação das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima, que iniciaram em janeiro de 1960 este lausperene, louvor eterno, e de leigos voluntários que garantem a “corrente de adoração” durante a madrugada.
O espaço está aberto ao público e é conhecido também como “capela do silêncio”. Foi construído de forma a assegurar a insonorização, permitindo uma experiência de isolamento do mundo exterior.
Ali permanece em exposição uma custódia com a hóstia. Na tradição católica, a hóstia, o pão consagrado na eucaristia, é a presença mística de Cristo, que merece a adoração dos fiéis.
“É uma aprendizagem e um desafio”, diz a irmã Apelina Francisco, 28 anos, uma das mais jovens vocações nas Irmãs Reparadoras, acrescentando que o silêncio permite uma “escuta centrada em Deus, para perceber o que vai dentro de nós”.
Já a irmã Amália Saraiva, 58 anos, sente-se “assombrada” de cada vez que entra na capela para a sua hora na perpétua adoração. Até porque, explica, “não vão só os crentes, vão os inquietos, os que procuram um espaço de silêncio”.
Esta dimensão mais transversal da experiência na “capela do silêncio” é reconhecida e incentivada pelo Santuário de Fátima. O padre Joaquim Ganhão fala num espaço onde quem entra pode ter “um encontro, antes de mais consigo mesmo, quase uma terapia pessoal”. Entrar é já “um ato de coragem de parar e de calar, para escutar o silêncio, porque o silêncio fala imenso”, sublinha o responsável pelo setor litúrgico do santuário.
Se as motivações de quem entra são insondáveis, a irmã Amália vislumbra nesta experiência de silêncio a possibilidade de sondar a transcendência, realçando que “cada pessoa procura algo mais perene e isso só mesmo olhando para além das nuvens, para lá do imediato”.

A reportagem “Um silêncio para lá das nuvens”, de Joaquim Franco, com imagem de Romeu Carvalho e edição de imagem de João Pedro Ferreira, pode ser vista nesta ligação.