Foi por causa do presépio do último Natal que esta ideia nasceu: um presépio (o nascimento) no centro do globo, a nossa casa comum. Foi isso que a paróquia de Valongo do Vouga (Águeda, diocese de Aveiro) quis marcar com essa proposta, depois retomada em cada um dos domingos da Quaresma. Uma reflexão animada por Manuel José Marques, que fez o curso de animador Laudato Si’, do Movimento com o mesmo nome da encíclica do Papa Francisco sobre o cuidado da casa comum e que o 7MARGENS publica, durante a Semana Laudato Si’ que se prolonga até ao próximo domingo, 28, também como forma de desafiar outros grupos, comunidades e paróquias a debater a encíclica do Papa e agir em favor da Criação e da casa comum. Depois dos textos do I Domingo da Quaresma e do II Domingo da Quaresma, publicamos a seguir a reflexão correspondente ao III Domingo da Quaresma (12 Março).

O Movimento Laudato Si’ quer que os comportamentos mudem de forma a reduzir a contribuição humana para as mudanças climáticas.Foto: Direitos reservados
Guiado pela luz e força do Espírito Santo, o Movimento Laudato Si’ “une-se em torno da visão de um mundo baseado no desenvolvimento sustentável e integral, em que seres humanos de todos os cantos do planeta cuidem da nossa Casa através de ações individuais e coletivas, em que o compromisso individual crie sementes de consciência também para outros, e gere comportamentos colectivos que permitam influenciar os centros de decisão, de forma a reduzir a contribuição humana nas mudanças climáticas que afectam dramática e diariamente a vida de milhões de pessoas”.
Por vezes, as informações não conseguem alterar e consolidar hábitos, assim como as leis existentes. A carta do Papa Francisco (LS 211), refere que “para produzirem efeitos importantes e duradouros, é preciso que a maior parte dos membros da sociedade as tenham acolhido, com base em motivações adequadas, e se reaja com uma transformação pessoal. A doação de si mesmo num compromisso ecológico só é possível a partir do cultivo de virtudes sólidas. Se uma pessoa habitualmente se agasalha um pouco mais em vez de ligar o aquecimento, embora as suas economias lhe permitam consumir e gastar mais, isso supõe que adquiriu convicções e modos de sentir favoráveis ao cuidado do ambiente. É muito nobre assumir o dever de cuidar do planeta com pequenas acções diárias, e é maravilhoso que a educação seja capaz de motivar até dar forma a um estilo de vida. A educação na responsabilidade ambiental pode incentivar vários comportamentos que têm incidência directa e importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, separar o lixo, reduzir o desperdício alimentar, reutilizar materiais, tratar com respeito os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias… Tudo isto são exemplos de uma criatividade generosa e dignificante, que põe a descoberto o melhor do ser humano”.
“E não se pense que estes esforços são incapazes de mudar o mundo”, como também acrescenta o Papa Francisco (Ls212). “Estas acções espalham, na sociedade, um bem que frutifica sempre para além do que é possível constatar; provocam, no seio desta terra, um bem que sempre tende a expandir-se, por vezes invisível. Além disso, o exercício destes comportamentos restitui-nos o sentimento da nossa dignidade, leva-nos a uma maior profundidade existencial, permite-nos experimentar que vale a pena a nossa passagem por este mundo”. Uma causa, uma orientação de vida.
Manuel José Marques é animador de encontros sobre a encíclica Laudato Si’ na paróquia de Valongo do Vouga (Águeda).