
Fachada da sinagoga de Novi Sad, na Sérvia. Construída no início do século XX, tem capacidade para acolher perto de 1.000 fiéis, mas atualmente é visitada quase exclusivamente por turistas. Foto © Stolica, via Wikimedia Commons.
Começou o Ano Novo Judaico e aproxima-se a festa de Yom Kippur, ou Dia da Expiação, a data mais solene do ano judaico, que se assinala no próximo domingo, 24 de setembro. Em Novi Sad – segunda maior cidade da Sérvia, que foi um centro próspero da vida judaica na Jugoslávia antes da guerra – este é o único dia em que a grande sinagoga é usada sem ser para fins turísticos ou culturais.
Antes da Segunda Guerra Mundial, Novi Sad tinha cerca de 60.000 habitantes, 4.300 dos quais eram judeus – cerca de 7% da população total. A sinagoga – com uma cúpula central de 40 metros de altura, uma escola judaica e escritórios – foi construída no início do século XX com capacidade para acolher perto de 1.000 fiéis.
Hoje, no entanto, o edifício serve uma comunidade cada vez menor que, dizimada Holocausto e erodida pelas guerras dos Balcãs na década de 1990, teme pelo seu futuro à medida que os residentes se dispersam no estrangeiro. Apenas cerca de 640 judeus permanecem em Novi Sad, conta o jornalista Larry Luxner, numa reportagem publicada pelo jornal The Times of Israel esta segunda-feira, 18 de setembro.
Com uma comunidade de 640 membros, Novi Sad tem a segunda maior população judaica do país, depois de Belgrado. A capital, por sua vez, é o lar de mais de metade dos 3.000 judeus da Sérvia, que conta com uma população total de 7,1 milhões. Algumas comunidades judaicas mais pequenas também podem ser encontradas em Subotica, Niš e outras cidades. Mas apenas as sinagogas de Belgrado e Subotica – esta última localizada a poucos quilómetros da fronteira húngara – ainda funcionam regularmente.
Larry Luxner conversou com Ladislav Trajer, natural de Novi Sad e vice-presidente da Federação das Comunidades Judaicas da Sérvia, que confirmou: “Usamos a nossa própria sinagoga apenas para o Yom Kippur”. “Recebemos entre seis a dez pessoas para o Shabat – talvez 15 – mas menos de metade são homens, então não podemos fazer um minyan”, acrescenta, referindo-se ao quórum mínimo para a oração judaica, que é de dez homens. “Mesmo em Belgrado, que é muito maior, o rabino nem sempre recebe um minyan. E ninguém aqui se mantém kosher. Não se consegue carne kosher“, assinala ainda.
Apenas 300 judeus de Novi Sad sobreviveram ao Holocausto e reconstruíram a comunidade praticamente do zero no caos que se seguiu no pós-guerra. Segundo Trajer, de 1948 a 2022, não foi realizado nenhum serviço de Shabat. Atualmente, Trajer conduz todos os serviços religiosos porque é o único que conhece fluentemente as orações hebraicas.
Mirko Štark, presidente da Comunidade Judaica de Novi Sad, explica que o pequeno número de judeus restantes tentou manter a comunidade viva.
A maioria dos membros da comunidade de Novi Sad, incluindo Štark, casaram-se com não-judeus. “A minha esposa não é judia. Nem a minha mãe. Apenas o meu pai era judeu”, diz. “Depois da Segunda Guerra Mundial, as opções para encontrar maridos e esposas na comunidade eram limitadas. Por esta razão, aceitamos cônjuges não-judeus como membros. Esta é a única maneira de sobreviver.”
Desde 2012, a comunidade de Novi Sad tem alugado a sua enorme sinagoga ao município para concertos de música clássica. Em troca, a cidade mantém o complexo como monumento histórico, aberto a visitas turísticas, e está agora a reparar o telhado da sinagoga e a consertar canos de água com fugas.

Quando assumiu a presidência da comunidade, Štark procurou dinamizá-la e despertar atividades que estavam praticamente extintas. Hoje, Novi Sad conta com o coro HaShira – que canta em hebraico, ladino e iídiche, e já ganhou prémios internacionais -, um grupo de dança, um clube de cultura judaica que se reúne semanalmente para discutir livros e filmes israelitas, um “baby club” para crianças pequenas e outro clube para adolescentes,
“Vamos manter vivo o espírito judaico aqui. Estamos a trabalhar muito, a começar pelas crianças”, afirma. “Se não o fizermos, tudo morrerá em cinco ou dez anos. Então depende de nós.”
Embora os incidentes antissemitas não sejam muito comuns, a Sérvia, tal como a maioria dos outros países da Europa Oriental, também enfrenta uma forte tendência nacionalista, assinala a reportagem. Ladislav Trajer, que monitoriza de perto o antissemitismo, afirma que cerca de 1.500 sérvios pertencem a grupos extremistas, dos quais cerca de 120 são “ativos”, organizando comícios e fazendo grafites antissemitas, anti-imigrantes e antigay em edifícios públicos.