Sem as mulheres, Igreja fica empobrecida, diz o documento final do sínodo

| 20 Dez 18

Foto © Helena Lopes/Pexels

A presença feminina e a participação das mulheres nas estruturas da Igreja Católica e nos seus processos decisórios é “um dever de justiça”, diz o documento final do Sínodo dos Bispos sobre os Jovens, que decorreu de 3 a 28 de outubro deste ano, em Roma, e foi dedicado ao tema Os Jovens, a fé e o discernimento vocacional. O texto invoca mesmo o modo “como Jesus se relacionou com homens e mulheres do seu tempo e na importância do papel dalgumas figuras femininas na Bíblia”, para dizer que a falta de presença das mulheres “empobrece o debate e o caminho da Igreja”.

Durante a assembleia sinodal – que reuniu mais de 200 bispos de todo o mundo – foram ouvidos também vários jovens que participaram como auditores e observadores e que expressaram as suas preocupações e dúvidas, uma das bases para a construção do documento. Para este sínodo, foi mesmo considerado importante ouvir jovens de outras confissões ou “alheios ao horizonte religioso”, já que “todos os jovens, sem exceção, estão no coração de Deus e, consequentemente, também no coração da Igreja.”

Na primeira metade do documento, considera-se importante não só a reflexão sobre o papel da mulher na Igreja, como também sobre a diferença entre a identidade masculina e feminina e a homossexualidade.

Entre os assuntos que tocam os jovens são referidos três pontos cruciais: o ambiente digital, os migrantes e os abusos sexuais ou psicológicos, por parte de membros do clero, como um “sério obstáculo” para a missão da Igreja.

No tópico “corpo e afetividade”, o texto refere que “a moral sexual é frequentemente causa de incompreensão e afastamento da Igreja, uma vez que é sentida como um espaço de juízo e de condenação”. 

Em relação à crescente falta de afiliação religiosa o documento afirma mesmo que os bispos estão cientes “de que um número consistente de jovens, pelos motivos mais variados, nada pede à Igreja, porque não a consideram significativa para a sua existência. Aliás, alguns pedem-lhe expressamente para ser deixados em paz, uma vez que sentem a sua presença como importuna e até mesmo irritante.”

Os bispos acrescentam algumas explicações para estes factos: “Muitas vezes este pedido não nasce dum desprezo acrítico e impulsivo, mas mergulha as raízes mesmo em razões sérias e respeitáveis: os escândalos sexuais e económicos; a falta de preparação dos ministros ordenados, que não sabem reconhecer de maneira adequada a sensibilidade dos jovens; pouco cuidado na preparação da homilia e na apresentação da Palavra de Deus; o papel passivo atribuído aos jovens no seio da comunidade cristã; a dificuldade da Igreja dar razão das suas posições doutrinais e éticas perante a sociedade atual.”

Para responder a todos estes problemas, o documento foca-se em respostas a desafios urgentes. Um deles é a questão dos migrantes, propondo “Acolher, proteger, promover e integrar” as pessoas nessas situações – quatro verbos em que o Papa Francisco tem insistido como linha de ação. Muitos dos migrantes são jovens, relembra ainda o texto. 

O parágrafo sobre a homossexualidade, um dos 167 em que se desdobra o documento, foi o que teve mais votos contra (65 e 178 votos a favor). Nele se refere a importância de “percursos de acompanhamento na fé de pessoas homossexuais”. “Em muitas comunidades cristãs” esses percursos já existem e “o Sínodo recomenda que se favoreçam tais percursos”. Todos os jovens, sem exceção, devem ser ajudados, para “integrar cada vez mais a dimensão sexual na própria personalidade, crescendo na qualidade das relações e caminhando para o dom de si”.

Entre outras problemáticas, consideram-se também importante as questões do mal-estar psicológico, que pode levar à depressão, aos distúrbios alimentares ou mesmo ao suicídio, temas que nem sempre são acolhidos pelas igrejas cristãs. Para que exista uma melhor integração dos jovens na Igreja e com intuito de os incluir mais nas decisões da mesma, o documento considera “uma prioridade pastoral decisiva” tê-los “envolvidos, valorizados e sentir-se coprotagonistas da vida e missão da Igreja”. 

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