Guterres no Conselho de Segurança

Uma Inteligência Artificial ao serviço do Desenvolvimento Sustentável

| 19 Jul 2023

Nações Unidas, ONU, António Guterres, Desenvolvimento sustentável, Inteligência artificial

Reunião do Conselho de Segurança da ONU, na terça-feira, durante a qual o secretário-geral António Guterres pediu que o potencial da Inteligência Artificial (IA) seja posto ao serviço dos objetivos e projetos de desenvolvimento humano sustentável. Foto © UN Photo/Eskinder Debebe

 

O secretário-geral da ONU, António Guterres, destacou esta terça feira, 18 de julho, o potencial da Inteligência Artificial (IA) para os objetivos e projetos de desenvolvimento humano sustentável (ODS), alertando, ao mesmo tempo, para a utilização maldosa e fraudulenta dessa tecnologia.

Participando num debate entre os membros do Conselho de Segurança, promovido pela Itália, cuja autoridade para a proteção de dados suspendeu o uso da tecnologia ChatGPT no país, António Guterres saudou os apelos lançados nos últimos meses por alguns estados-membros no sentido de que seja criada uma entidade das Nações Unidas para “apoiar os esforços colectivos de governação desta tecnologia extraordinária”, a exemplo do que existe para a energia atómica ou para as alterações climáticas.

Na sua intervenção, o secretário-geral sublinhou que “se a IA se tornasse principalmente uma arma para lançar ciberataques, gerar deepfakes ou para espalhar desinformação e discursos de ódio, isso teria consequências muito graves para a paz e a segurança mundiais”. Deu, a propósito, o exemplo das redes sociais digitais, “que foram concebidas para melhorar a ligação humana” e “são agora utilizadas para minar eleições, espalhar teorias da conspiração e incitar ao ódio e à violência”, afirmou.

Defendendo a necessidade de “uma abordagem universal” no que toca à governação da IA, Guterres pôs em evidência os riscos que a comunidade internacional e a humanidade correm se o não fizerem, apontando a interação entre a IA e as armas nucleares, a biotecnologia, a neurotecnologia e a robótica. Deu como exemplo algo que já foi feito no âmbito da ONU, nesta matéria, quando foram definidos princípios orientadores sobre sistemas de armas autónomas letais e feitas recomendações sobre a ética da inteligência artificial.

Referindo-se à inteligência artificial generativa, associada, por exemplo, aos robôs de conversação, cujo impacte foi já comparado ao surgimento da imprensa de tipos móveis de Gutenberg, o secretário-geral chamou a atenção para a velocidade e alcance desta tecnologia: “Enquanto foram necessários mais de cinquenta anos para que os livros impressos se tornassem amplamente disponíveis em toda a Europa, o ChatGPT atingiu 100 milhões de utilizadores em apenas dois meses”, disse.

Todos os atores e empresas a nível local e global estão a definir estratégias de IA, até pelo papel que esta tecnologia terá no aumento do “desenvolvimento global, desde a monitorização da crise climática até aos avanços na investigação médica”, com potencial repercussão em todas as áreas da vida quotidiana. No entanto, observou Guterres, “nem mesmo os seus próprios criadores fazem ideia de onde poderá conduzir a sua espantosa descoberta”.

No campo dos direitos humanos, o potencial para a sua concretização advindo da IA, designadamente nos campos da saúde e da educação, é reconhecido. Contudo, Guterres fez notar que o Alto-Comissário para os Direitos Humanos se manifestou alarmado com as provas de que a IA pode “amplificar preconceitos, reforçar a discriminação e permitir novos níveis de vigilância autoritária”.

O potencial para os objetivos de desenvolvimento humano, incluindo a paz e a segurança (na identificação de padrões de violência ou na monitorização de acordos de cessar-fogo, por exemplo), não pode fazer esquecer que a utilização maliciosa de sistemas de IA para fins terroristas, por parte de entidades criminosas ou estatais, “pode causar níveis horríveis de morte e destruição, traumas generalizados e danos psicológicos profundos, a uma escala inimaginável”, advertiu o dirigente da ONU.

Enquanto as Nações Unidas não decidem criar um instituto ou departamento permanente para partilhar experiências, regular e acompanhar esta tecnologia “revolucionária”, o secretário-geral anunciou, na reunião do Conselho de Segurança, que, como primeiro passo, vai convocar um Conselho Consultivo de Alto Nível para a Inteligência Artificial, composto por várias partes interessadas, que apresentará um relatório sobre as opções para a governação global da IA, até ao final deste ano. Além disso, irá fazer também recomendações aos estados-membros sobre a governação da IA, no seu próximo documento de síntese sobre uma nova agenda para a paz.

António Guterres exortou, por fim, o Conselho de Segurança, a “exercer a liderança em matéria de Inteligência Artificial e a indicar o caminho para medidas comuns de transparência, responsabilidade e controlo dos sistemas de IA”, apelando a que se trabalhe em conjunto, superando “clivagens sociais, digitais e económicas”. Para que possa haver uma IA que seja “fiável e segura e que possa acabar com a pobreza, banir a fome, curar o cancro e impulsionar a ação climática”; e que “impulsione para os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável” – desejou o dirigente da ONU.

 

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