
Sally, 26 anos, estudou Teologia no Líbano e na Alemanha e decidiu seguir as pisadas do seu pai, o bispo Sani Azar, tendo sido o próprio a presidir à celebração. Foto © LWF/ Albin Hillert.
Foram precisos cerca de dois mil anos para que, em Jerusalém, berço do cristianismo, uma mulher recebesse a ordenação sacerdotal. Trata-se de Sally Azar, que este domingo, 22 de janeiro, foi consagrada pela Igreja Evangélica Luterana da Jordânia e Terra Santa, tornando-se assim na primeira mulher palestiniana pastora na região e na quinta a ser ordenada em todo o Médio Oriente, juntando-se a três pastoras já ordenadas no Líbano e uma na Síria.
“Espero que a minha ordenação inspire outras mulheres a estudar Teologia”, afirmou a jovem pastora, citada pela revista Vida Nueva. “Que muitas raparigas e mulheres saibam que isto é possível e que outras mulheres de outras Igrejas se unam a nós. Sei que levará muito tempo, mas será emocionante se isto mudar na Palestina”, acrescentou. Sally, 26 anos, estudou Teologia no Líbano e na Alemanha e decidiu seguir as pisadas do seu pai, o bispo Sani Azar, tendo sido o próprio a presidir à celebração.
Para o Conselho de Igrejas do Médio Oriente, esta ordenação representa “um passo em frente no caminho em direção à justiça de género na Igreja, na comunidade e no país”. Também o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) se congratulou com o sucedido, afirmando que se trata de “um marco histórico para a Igreja Evangélica Luterana da Jordânia e Terra Santa, e para todos os cristãos na Palestina”. Numa carta de felicitações, o secretário-geral do CMI , Jerry Pillay, expressou a importância do exemplo de Sally Azar: “Para nós, és uma filha, uma irmã, mas também uma mentora, uma líder a contribuir para a vida e missão das nossas igrejas”, escreveu.
A cerimónia foi precedida de uma procissão pelas ruas de Jerusalém, em que Azar diz ter sentido a emoção e o apoio das centenas de pessoas presentes. A partir desta segunda-feira, 23, é ela a responsável por dirigir a comunidade de língua inglesa da Igreja do Redentor, na Cidade Velha de Jerusalém, a poucos metros da Igreja do Santo Sepulcro.
Segundo dados estatísticos citados pelo jornal Religión Digital, o número de cristãos na Cisjordãnia e Faixa de Gaza rondava os 47 mil em 2017. A maioria dos palestinianos cristãos pertencem a denominações que não permitem a ordenação sacerdotal de mulheres. Se considerarmos a Palestina e Israel, os cristãos são perto de 180 mil, representando pouco mais de 1% da população total de ambos os territórios. Em 1967, correspondiam a 12% e, em 1948 (antes da fundação do Estado de Israel) eram mais de 25%, adianta o mesmo jornal.