
Uma das fotos do livro e da exposição: “‘Conseguirá alguma vez alguém descrever ao mundo exterior o que aconteceu aqui?’, pergunto ao meu companheiro. O mundo exterior provavelmente pensa que somos uma multidão cinzenta, uniforme e sofredora de judeus, nada sabendo das brechas, abismos e diversidades existentes entre os indivíduos e os grupos; talvez jamais venham a compreendê-los. (Etty Hillesum, Diário, 24-8-43). Foto © Filipe Condado, cedida pelo autor.
A segunda edição do livro Nos Passos de Etty Hillesum, com fotografias de Filipe Condado nos lugares onde viveu a judia neerlandesa que foi assassinada pelos nazis em Auschwitz, será apresentada neste sábado, 11 de Dezembro, em Lisboa, pelo cardeal José Tolentino Mendonça. Ao mesmo tempo, será inaugurada uma exposição com as fotos.
O livro (ed. Documenta) e as fotos da exposição resultam de uma viagem realizada em 2017, por um grupo dinamizado pelo então capelão da Capela do Rato, em Lisboa e agora responsável da Biblioteca e do Arquivo do Vaticano. Na altura da primeira edição, o 7MARGENS publicou excertos dos textos do prefácio de Tolentino Mendonça e do testemunho de Filipe Condado, bem como várias das fotografias.
Etty Hllesum deixou um diário e dezenas de cartas (ambos editados pela Assírio & Alvim) que muitos consideram uma das mais profundas experiências espirituais do século XX. “Para Etty, a espiritualidade foi uma experiência unificante e inteira, em que a descoberta de Deus ou das práticas orantes eram indissociáveis do ardente encontro consigo mesma”, escreve Tolentino Mendonça no prefácio do livro. “Isso podemos verificar tanto no desenho da sua biografia, como nas atitudes fundamentais que foram germinando nela e constituíram, depois, a sua expressão religiosa, ética e poética. Cada vida é uma história sagrada. O que nos é pedido não é o rastreio moral daquela existência, mas um reconhecimento. E aceitando a vida de Etty Hillesum, talvez aprendamos alguma coisa sobre a arte de aceitar a nossa própria vida.”
Filipe Condado integrou também a viagem de 2017, mas não se sentiu um “verdadeiro peregrino”. Por isso, considerou que teria de voltar, “desta vez como peregrino, sem medo da possibilidade de regressar de mão vazias”, à procura dos passos de Etty Hillesum.
Quando regressou, Filipe Condado hospedou-se em Amesterdão perto da casa de Etty. “No primeiro dia, noite adentro, percorri inúmeras vezes o caminho entre a sua casa e a casa de Julius Spier (‘o parteiro da sua alma’). Esperava com isso encontrar inspiração, mas nada acontecia. Ao frio e debaixo de chuva, senti-me como um mendigo perdido pelas ruas de Amesterdão. Numa das voltas, sentei-me naquelas escadas do n.º 27 da Courbetstraat, onde Etty também se terá sentado a absorver os progressos que o seu coração ia fazendo. Mas nem aí me saía nada. Senti que era tudo demais para mim.”
Filipe Condado escreve, sobre o que entendeu acerca de Etty a partir do seu périplo: “Ela, como ninguém, mostrou-me o que é guardar e defender até às últimas consequências o lugar que Deus habita em nós. Ela, como ninguém, ensinou-me a importância de exercitar a gratidão. Ela, como ninguém, mostrou-me que é o facto de esperarmos um destino comum que nos faz cúmplices e irmãos na aventura do caminho.”
A sessão decorre na Escola do Largo (Largo do Chiado, 15), a partir das 17h e o espaço ficará aberto até às 21h. No domingo, 12, a exposição estará aberta entre as 15 e as 19 horas. Até 22 de Dezembro, poderá ser vista por marcação para o telefone 912 305 928.