
“Não podemos continuar a encurralar o ser humano em condições desumanas, sem direitos e sem certezas sobre o seu futuro”, defendem as organizações humanitárias. Foto: Comunidade de Sant’Egídio.
Os cerca de 13 mil migrantes que ficaram sem abrigo na sequência dos incêndios que destruíram, na semana passada, o campo de refugiados de Moria, na ilha grega de Lesbos, começaram esta quinta-feira, 17 de março, a ser levados para um novo “campo de emergência”, que tem estado a ser construído nas imediações do anterior. Diversas organizações humanitárias consideram que esta solução é “inaceitável”, “não responde às necessidades básicas dessas pessoas”, e equivale a colocá-las numa “prisão a céu aberto”. E apelam à União Europeia para que, “finalmente”, inicie “um processo de redistribuição dos requerentes de asilo por cada um dos Estados-Membros”.
“Esta não é uma resposta à emergência, mas sim a criação de um novo campo de detenção”, denuncia a organização humanitária Intersos, referindo-se ao local para onde estão a ser encaminhados os migrantes. “Neste momento, permite acolher cinco mil pessoas, mas na próxima semana a capacidade deve aumentar para sete mil”, informam num comunicado divulgado no site da instituição, sublinhando que o espaço não oferece condições básicas aos migrantes.
“Não são fornecidos colchões, as tendas não foram posicionadas a uma distância de segurança suficiente e, ao entrarem, as pessoas veem ser apreendidos os telefones, lâminas de barbear, lenços e colares, exatamente como numa prisão”, explica a nota da organização, que tem neste momento uma equipa de voluntários em Lesbos, para prestar assistência aos mais vulneráveis.
“Acima de tudo, não podemos aceitar que a União Europeia repita as mesmas políticas de contenção que amplamente demonstraram ser inadequadas. (…) Não podemos continuar a encurralar o ser humano em condições desumanas, sem direitos e sem certezas sobre o seu futuro, condenando-o a esperar por uma resposta que muitas vezes demora anos a chegar”, defende a organização.
Menos de 500 migrantes por cada Estado-Membro da UE
A solução seria, então, “desmantelar estas prisões a céu aberto e, finalmente, iniciar um processo de redistribuição dos requerentes de asilo em cada um dos Estados-Membros, tendo em vista a proteção e a integração”. Se, em vez disso, é mantida a mesma política, isto significa “virar o olhar uma vez mais, até ao próximo incidente”, conclui a Intersos.
Uma visão partilhada pela Comunidade de Sant’Egídio, pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados e pelas Irmãs Missionárias de São Carlo Borromeo (Scalabrinianas), que emitiram um comunicado conjunto onde pedem à União Europeia que, em cooperação com o Governo grego, intervenha “imediatamente para acolher e integrar um número de pessoas que indubitavelmente está ao seu alcance” (sendo que, dividindo o total de 13 mil habitantes do campo pelos 27 Estados-Membros da União Europeia, cada país não teria de receber mais do que 482 migrantes).
“Estabelecer uma nova precariedade permanente, às custas destes refugiados que vivem na ilha há meses, e alguns deles há anos, vai afetar seriamente a imagem da Europa e transformá-la num continente culpado, em vez de ser um símbolo de respeito pelos direitos humanos”, pode ler-se no comunicado.
As três instituições que assinam o apelo recordam ainda que, “desde 2016, a experiência dos corredores humanitários foi criada e lançada, em Lesbos, pelo próprio Papa Francisco, quando decidiu, a 16 de abril, levar consigo no seu avião as primeiras três famílias, num total de 67 refugiados”. Este é, defendem, o caminho a seguir, “juntamente com outros programas alternativos de acesso à proteção internacional”, de modo a “salvar os refugiados através da rede de contactos com inúmeras associações, paróquias e cidadãos comuns que estão dispostos a recebê-los com enorme generosidade”.
(Ver um testemunho de voluntários que estiveram em Moria noutro texto do 7MARGENS.)