
Ícone estoniano da Epifania
A Epifania é celebrada pelas Igrejas Ortodoxas a 6 de Janeiro no calendário Juliano (19 no calendário Gregoriano), 12 dias após a Festa do Natal.
A banalização da festa do Natal inscreveu-a no imaginário do espírito humano, sobrevalorizando-o e operando a sua dessacralização em detrimento do Espírito de Deus.
O espírito humano, afastou-se do espírito de Deus, compartimentando o acontecimento, dominando a representação imediata na memória social e simbologia colectiva, acrescentando-lhe valor material, relevando a festa do nascimento do Jesus histórico, relativamente a outra mais importante que é a Epifania.
No mundo da arte, o espírito humano é bafejado por momentos inspiradores, resultantes da complexidade intelectual de cada um. Daí ser frequente o uso do termo epifania para qualificar esse momento de luminosa resposta ou criação.
Visitando os dicionários, verificamos a origem grega do termo: significando evento ou manifestação rara, repentina e marcante; vulgarizando-se a sua utilização para qualificar um pensamento que resolve um problema num processo.
Sei que do Teu Espírito
Libertaste gotas de amor,
Quando do Jordão Te ergueste,
Partilhando
A Tua Luz por todos os seres.
No cristianismo, Epifania refere-se à manifestação visível do sagrado; ao momento em que Deus se manifestou no batismo de Jesus por João Batista[1].
Na ortodoxia, a Epifania, é frequentemente mencionada como Teofania.
Na minha educação cristã, foi enfatizada a imagem de uma pomba, que descendo dos céus, materializava a descida do Espírito de Deus sobre Jesus. Mas se estivermos atentos aos santos textos, a pomba pairou sobre Jesus, ou seja, não veio Dele, não se uniu ou incorporou Nele.
A menção simbólica da pomba é utilizada no Antigo Testamento como uma mensageira, símbolo de santidade, de pureza, inocência e fidelidade[2].
A concepção da natureza de Cristo e a sua divindade não é unanime no cristianismo. Na perspectiva ortodoxa trinitária Jesus Cristo tem duas naturezas, tanto divina como humana, não da mesma essência nem composta, porque a pessoa do Pai não é semelhante na carne, mas em união sem se misturarem.
Na ortodoxia, o Espírito Santo está presente nesta união, proveniente do Pai; como a pomba que desceu dos céus, quando aqueles se abriram e se ouviu a voz de Deus, pairando sobre Jesus, filho da sua mãe na genealogia humana e na filiação divina[3].
Jesus emerge ser humano purificado pelo batismo no Jordão, em união divina com o Pai que se ouve dos céus e com o Espírito Santo simbolicamente representado pela pomba que desce do céu e paira sobre o Filho.
Aceitando-se esta unidade em três pessoas distintas, a Teofania não é uma incorporação do Espírito de Deus, mas uma manifestação de Deus Trinitário para a humanidade, no humilde acto imaterial de João que batiza, reconhecendo a presença de Deus, na simplicidade de uma assembleia humana que testemunha nas margens de um rio em união perfeita entre o humano e o divino.
A Teofania celebra a manifestação de Deus, com a emergência humana do Filho, no Espírito Santo, numa Nova Aliança entre Deus e a Humanidade.
O Senhor fez alianças, com os primogénitos no Éden, com Noé, Abraão e Moisés, porque cheio de compaixão e misericórdia se manifesta na plenitude do amor, zeloso do seu povo, num perpétuo sacerdócio de paz.
Esta Nova Aliança, que a Teofania celebra, não é como as anteriores que foram quebradas, como aconteceu com as tábuas da Lei, porque foi colocada no íntimo dos corações humanos, através da presença do seu Filho Jesus Cristo, que é o mediador para os que são chamados através do batismo, transformando cada um de nós em ministros, não da letra, mas do Espírito (2Cor 3:6).
No vídeo a seguir pode ouvir-se o Tropário da Epifania em várias línguas; o tropário é um hino litúrgico curto que pode ser interpolado entre versos de um salmo.
[1] No Novo Testamento, o baptismo de Jesus, é narrado em Mateus 3:13-17, Marcos 1:9-11, Lucas 3:21-22 e João 1:31-34.
[2] Entre outros e em primeiro lugar no Livro de Genesis 8:8-13, depois no Salmo 55(54):7, no Salmo 74(73):19, Cântico dos Cânticos 2:14 e 5:2, Isaías 38:14, Jeremias 48:28, Oseias 7:11.
[3] Livro III, Ch. III, de Uma Exposição Exata da Fé Ortodoxa, por São João de Damasco.
www.orthodox.net/fathers.
Alberto Teixeira é cristão ortodoxo