
“O jovem padre Luís Moita, doutor em Teologia e pároco de um bairro operário de Lisboa, que me impressionou pela sua elegância natural, o seu espírito crítico, as suas convicções sociais e a sua abertura ecuménica.” Foto: Luís Moita na sua “Última Lição”, na Universidade Autónoma de Lisboa, em Julho de 2019. © Departamento de Comunicação da UAL
Lembro-me de ser um jovem estudante de Teologia, da Igreja Presbiteriana, quando encontrei o Luís, na década de 1960, uma época de forte turbulência, mas igualmente de intensos debates e reflexões sobre o papel da Igreja na sociedade. Foi durante um colóquio organizado por católicos anticonformistas (“Deus o que é?”), ligados à revista O Tempo e o Modo, que travei conhecimento com o jovem padre Luís Moita, doutor em Teologia e pároco de um bairro operário de Lisboa, que me impressionou pela sua elegância natural, o seu espírito crítico, as suas convicções sociais e a sua abertura ecuménica.Entretanto, como muitos outros, ele afastou-se do ministério devido à sua insatisfação com uma Igreja cúmplice da opressão colonial e sem voz diante das desigualdades que afetavam Portugal e o Mundo. Mas também, tal como muitos outros, prosseguiu a sua atividade “pastoral” na sociedade, como cristão mais comprometido com os valores do Evangelho do que com as instituições eclesiásticas.
Poucos sabem que, no fim dos anos 70, o Luís teve a oportunidade de ensinar a Ética no Seminário Evangélico de Teologia, uma instituição onde se formavam os responsáveis das Igrejas Presbiteriana, Lusitana e Metodista e onde igualmente ensinei nesses mesmos anos. Gostaria de expressar aqui a minha imensa gratidão pessoal, como ex-colega e pastor protestante, pela colaboração do Luís nessa aventura ecuménica. Ele foi, para todos nós, o rosto de um catolicismo dialogante e respeitador do pluralismo confessional. A sua participação, como nosso delegado no colóquio das Faculdades de Teologia protestantes dos países latinos da Europa que, aliás, chegou a presidir, dignificou o nosso país e o trabalho teológico de dimensão ecuménica que dificilmente aqui realizamos.
De maneira muito protestante dedico-lhe o célebre versículo de Timóteo 4, v.7, parafraseando-o: Luís, combateste o bom combate, acabaste a carreira e guardaste a fé!
a que acrescento dialeticamente umas estrofe do poema de Ruy Belo Nós os vencidos do catolicismo:
Nós que perdemos na luta da fé
não é que no mais fundo não creiamos
mas não lutamos já firmes e a pé
nem nada impomos do que duvidamos
Joel L. Pinto é pastor da Igreja Presbiteriana em Portugal e da Igreja Reformada Suíça em Neuchatel e animador do blogue Itinerários