
Stefania Giannini, vice-diretora geral para educação da UNESCO, alertou para o facto de que “muitas mulheres continuam a ser iletradas, especialmente no Sul Global”. Foto © Caritas Internationalis.
A sede da UNESCO, em Paris, acolheu nesta quinta e sexta-feira, 27 e 28 de outubro, uma conferência internacional para refletir sobre algumas das questões mais urgentes em torno dos direitos das mulheres. Promovida em parceria com a Caritas Internationalis e pela Santa Sé, a iniciativa, intitulada “A face completa da Humanidade: Mulheres na liderança para uma sociedade justa”, contou com mais de 200 participantes de todo o mundo e com o olhar atento, ainda que à distância, do Papa Francisco.
“Às mulheres devem ser confiadas funções e responsabilidades maiores. Quantas opções de morte seriam evitadas se estivessem precisamente as mulheres no centro das decisões”, escreveu Francisco na sua conta de Twitter no primeiro dia do encontro, que coincidiu com a data de divulgação do Documento de Trabalho da Etapa Continental do Sínodo, onde surgia o apelo de católicos do mundo inteiro para que, precisamente, as mulheres possam “participar plenamente na vida da Igreja”.
Na abertura dos trabalhos, que contaram com a intervenção de 30 palestrantes ao longo dos dois dias, o secretário-geral da Caritas Internationalis, Aloysius John, afirmou que “não se pode imaginar uma sociedade justa sem que as mulheres sejam consideradas iguais na sua construção”.
O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, e a irmã Alessandra Smerilli, secretária do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que tiveram a palavra durante logo no primeiro dia, manifestaram estar totalmente de acordo. “A sociedade tem, em larga medida, uma dívida com as mulheres que estão empenhadas nos vários setores da atividade educativa, muito para lá da família”, sublinhou Parolin. Já a irmã Smerilli destacou “a inteligência emocional e a colaboração inspiradora” como forças específicas da liderança feminina, e deixou uma questão no ar: “As respostas à pandemia parecem ser mais eficazes em países onde as mulheres têm responsabilidade. Será porque elas têm experiência em cuidar?”.
O padre Vyacheslav Grynevych, secretário-geral da Cáritas Ucrânia, disse por seu lado estar “convencido de que as mulheres, em especial, merecem ter as suas histórias contadas, para que o horror da guerra nunca lhes roube a sua dignidade”. E foi precisamente a sua história que Jasvinder Sanghuera, fundadora do Karma Nirvana (um abrigo para mulheres asiáticas em Inglaterra), foi a Paris contar.
Jasvinder apresentou-se como “uma sobrevivente do casamento forçado”, que aos 15 anos foi obrigada pela família a deixar a escola para casar com um homem que só havia visto em fotografia. Recusou, fugiu de casa, foi deserdada pelos pais, que estiveram sem lhe falar durante os 42 anos seguintes. E nesta conferência partilhou a forma como o ativismo “pode mudar as coisas”.
No segundo dia, Marianna Zanette, médica pertencente à organização não-governamental Doctors with Africa CUAMM, defendeu ser “essencial promover educação escolar sobre temas de saúde e nutrição para o bem-estar das mulheres”, e Stefania Giannini, vice-diretora geral para educação da UNESCO, alertou para o facto de que “muitas mulheres continuam a ser iletradas, especialmente no Sul Global”, assegurando que “a UNESCO está a apoiar as comunidades” para que as raparigas possam prosseguir os seus estudos além do primeiro e segundo ciclos.
Entre os oradores, esteve também Hayat Sindi, biotecnologista da Arábia Saudita e uma das primeiras mulheres membros da Assembleia Consultiva daquele país. “Precisamos de ensinar à nossa geração mais jovem – rapazes e raparigas – que está certo olhar para a beleza da ciência , ver a história da ciência e como ela toca os humanos”, e incentivar particularmente as raparigas a seguir carreiras na ciência, tecnologia, engenharia e matemática. A fraca representatividade das mulheres na ciência é um problema geral, e não apenas do mundo árabe, alertou Sindi.
A frase com que o Papa terminou a sua partilha no Twitter resume o espírito das várias intervenções: “Empenhemo-nos para que [as mulheres] sejam mais respeitadas, reconhecidas e envolvidas”.