
Marko Ivan Rupnik, padre jesuíta, artista e teólogo, sob suspeita de ter abusado de mulheres. Foto © Centroaletti, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons
O reitor da Pontifícia Universidade Gregoriana anunciou nesta última semana, numa reunião académica, o fim da colaboração do padre jesuíta Marco Ivan Rupnik, na sequência da vinda a público de vários casos de agressões sexuais e abusos de poder relativamente a mulheres consagradas, que foram já parcialmente objeto de apreciação pelo Vaticano, mas que se mantinham encobertas até ao mês de dezembro último.
A medida, com efeitos imediatos, implica que aquele influente teólogo e artista deixe de dar aulas e de orientar ou colaborar na orientação de teses de doutoramento, tendo a instituição decidido já atribuir outros orientadores para as funções que Rupnik exercia. Além disso, as referências ao nome deste ex-colaborador foram retiradas do site da instituição, que é dirigida pelos Jesuítas.
O padre e artista viu também canceladas outras atividades que estavam previstas para os próximos tempos, nomeadamente um retiro para o clero, que estava já proibido de fazer por determinação dos superiores jesuítas, mas que continuava a ostensivamente a realizar, com anúncios que era possível encontrar na internet.
Contudo, o nome de Rupnik continua a figurar no Anuário do Vaticano como consultor em pelo menos três dicastérios da Cúria. Por outro lado, relativamente aos órgãos da diocese de Roma, em que o jesuíta exerce funções, e particularmente o seu papel no Centro Aletti, que poderá ter sido um dos espaços onde alguns dos abusos e agressões se verificaram, nada transpirou até agora, apesar da ponderação, anunciada na antevéspera de Natal,
Nas últimas semanas, novas denúncias vieram a público em Itália, de novo de religiosas da Comunidade Loyola, as quais reforçam e apliam o quadro até agora conhecido e que o 7MARGENS tem acompanhado.
Por outro lado, multiplicam-se também quer as reflexões sobre o caso quer as tomadas de posição institucionais. Assim, da Eslovénia, país de origem do padre Rupnik e de origem, também, da Comunidade Loyola, de que se tornou orientador espiritual e, nesse posto, abusou de várias consagradas, os superiores dos Jesuítas vieram pedir desculpa pelo facto de não terem agido em tempo oportuno, afirmaram-se “do lado das vítimas de abuso” e apostados em “criar uma cultura de segurança”, tendo instituído um canal para que as vítimas do padre Rupnik se possam manifestar.
As estruturas do Vaticano continuam, entretanto, em silêncio perante um caso que cresce em dimensão, deixando a impressão de que há um tratamento diferenciado relativamente a casos de padres com gravidade muito inferior.
Por um lado, a Cúria continua silenciosa relativamente ao relatório sobre a Comunidade Loyola elaborado pelo jesuíta Daniele Libanori, bispo auxiliar de Roma, e entregue em meados do ano passado, o qual, ainda que tendo âmbito e objetivos mais largos, inclui informação importante acerca do papel que nela desempenhou Rupnik.
Por outro lado, ninguém explica como foi possível o Dicastério para a Doutrina da Fé ter decidido, em 2020, a excomunhão de Rupnik por falta grave contra o sexto mandamento e abuso da confissão e ter levantado essa pena extrema menos de um mês depois. Assim como não se percebe como, em outubro último, o mesmo Dicastério, confrontado com denúncias de abusos perpretados pelo mesmo Rupnik com religiosas da Comunidade Loyola, não avançou com o processo, invocando prescrição da matéria factual, quando sabia estar diante de um contumaz.
Sobretudo pelo que se passou em torno da excomunhão, que é matéria do foro papal, alguns canonistas consideram ser “tecnicamente” impossível o Papa Francisco não estar por dentro desta grave situação. Não terá chegado ainda o momento para intervir?