
Redes mosquiteiras são importante prevenção contra a malária. Foto © UNICEF/Frank Dejongh.
Com as atenções do mundo ainda centradas na pandemia da covid-19, que deixou um rasto de morte em todos os continentes, a Organização Mundial de Saúde (OMS) fez um anúncio histórico de uma vacina contra a malária para crianças em risco.
Os dados dizem que, desde 2000, as mortes caíram para mais de metade e a doença foi erradicada em muitas partes do mundo, mas para o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, este progresso estagnou num nível “inaceitavelmente alto”, com mais de 200 milhões de casos que ocorrem ainda por ano. E dois terços das pessoas que morrem da doença são crianças menores de cinco anos em África.
“A tão esperada vacina contra a malária para crianças é um avanço para a ciência, para a saúde infantil e para o controlo da malária”, apontou Tedros Adhanom Ghebreyesus, no dia 6 de outubro, citado pelos serviços informativos das Nações Unidas. À semelhança da covid-19, a prevenção da doença deve continuar a ser um objetivo. “Usar esta vacina, além das ferramentas existentes para prevenir a malária, pode salvar dezenas de milhares de vidas jovens a cada ano.”
O uso de redes mosquiteiras nas camas, por exemplo, mantém-se como um dos instrumentos mais eficazes nesta prevenção, mas esta vacina, classificada pela OMS como “histórica”, pode acelerar a diminuição de casos da doença.
Ghebreyesus disse que o mundo fez “progressos incríveis” na luta contra a malária nas últimas duas décadas.
Principal causa de morte infantil
O parasita da malária é transmitido principalmente por mosquitos infetantes e transportado no sangue, após a picada. Não é contagioso de pessoa para pessoa e os sintomas incluem febre ou doença semelhante à gripe, náuseas e vómitos e, se não for tratada, pode ser fatal. Nos dias de hoje mata mais de 400 mil pessoas por ano em todo o mundo.

Projeto-piloto de vacinação contra malária está no terreno desde 2019. Foto: Twitter OMS.
Estes dados reforçam o carácter inédito da notícia e, também por isso, Tedros reagiu no dia 6 de outubro na conta da OMS no Twitter, recordando o seu percurso científico. “Como alguns de vocês devem saber, eu comecei a minha carreira como investigador da malária e ansiava pelo dia em que teríamos uma vacina eficaz contra essa doença milenar e terrível. Hoje é esse dia, um dia histórico.”
Segundo as Nações Unidas, “a malária continua a ser a principal causa de doença infantil e morte na África subsariana. Mais de 260 000 crianças africanas com menos de 5 anos morrem de malária anualmente.
A imunização deve ser administrada em regiões com transmissão moderada a alta, com a aplicação de quatro doses, em crianças a partir dos 5 meses.
De acordo com Tedros, o projeto-piloto, que estava a ser aplicado desde 2019, mostrou que a vacina pode ser facilmente aplicada em postos de saúde infantil, alcançando uma elevada cobertura de crianças. Há uma forte procura da comunidade e a vacina tem um “amplo alcance para as crianças, incluindo as mais vulneráveis que não podem usar redes mosquiteiras” para impedir a entrada de mosquitos, e é altamente económico.
A diretora regional da OMS para África, Matshidiso Moeti, disse que, “durante séculos, a malária perseguiu a África subsariana, provocando um imenso sofrimento pessoal”. Esta especialista em saúde pública vincou também a importância do anúncio. “Há muito que esperamos por uma vacina eficaz contra a malária e agora, pela primeira vez, temos uma vacina recomendada para uso generalizado”, disse Moeti.
A recomendação agora feita “oferece um vislumbre de esperança para o continente que carrega o fardo mais pesado da doença”. E concluiu, com um horizonte de otimismo: “Esperamos que muito mais crianças africanas fiquem protegidas da malária e se tornem adultos saudáveis.”