
O internato de Kamloops, no Canadá. Foto: Direitos reservados.
Diante do macabro dos restos mortais de 215 crianças de comunidades indígenas do Canadá, numa vala comum dos terrenos de um internato, descobertos na semana passada, a opinião pública daquele país reagiu expressando “choque” e vergonha”, segundo relatam os media locais.
Não sendo a primeira vez que a sociedade canadiana se defronta com este legado, ele choca tanto mais quanto a maior parte das crianças eram arrancadas à família com o argumento de que deveriam ser integradas na sociedade.
A descoberta dos restos mortais surgiram na província de Colúmbia Britânica, na localidade de Kamloops, em terrenos pertencentes a um internato, de uma rede sob a responsabilidade da Igreja Católica, que ali funcionou entre finais do século XIX e os finais dos anos 70, do século passado. Ainda que não estejam apuradas as causas de morte de tantas crianças, suspeita-se que estejam relacionadas com epidemias, nomeadamente de tuberculose, que dizimaram a instituição em momentos diferentes, combinadas, em muitos casos, com desnutrição e violência.
Este caso, que o primeiro-ministro Justin Trudeau considerou “uma recordação dolorosa” de “um capítulo vergonhoso” da história do Canadá, é, contudo, apenas um exemplo de vários outros internatos análogos que existiram noutras partes do país, geridos ora pelo Estado ora por instituições religiosas. Criados inicialmente por John Macdonald, o primeiro chefe de Governo, foram pensadas pelo fundador com o objetivo de retirar as crianças indígenas às famílias para evitar que crescessem como “selvagens”. Muitas nunca mais voltaram a ver os pais.
A Conferência dos Bispos da Igreja Católica do Canadá, expressou esta segunda-feira, 31, a sua dor sublinhando que “estes acontecimentos reavivam o sofrimento de um passado doloroso”, comprometendo-se a “prosseguir no presente o seu caminho na proximidade com os povos autóctones, na busca de uma maior cura e reconciliação para o futuro”. Diz-se ainda disposta a “acompanhar de forma perseverante as famílias e as comunidades autóctones”.