
O Vaticano participou com o desejo de “promover um diálogo inclusivo entre o sector tecnológico e a comunidade humana em geral, cujo futuro será moldado de muitas formas pelas decisões tomadas por aqueles que gerem a inovação.” Foto © Miguel Veiga.
As indústrias tecnológicas e, em geral, as empresas que recorrem cada vez mais às tecnologias passam a dispor de um manual de práticas éticas, elaborado pelo Instituto de Tecnologia, Ética e Cultura (ITEC) da Universidade de Santa Clara, na Califórnia, em colaboração o Dicastério para a Cultura e a Educação.
O documento, de 140 páginas, intitula-se Ethics in the Age of Disruptive Technologies: An Operational Roadmap (Ética na era das tecnologias disruptivas: um roteiro operacional) e encontra-se acessível online, mediante registo.
O principal objetivo do manual é ajudar as empresas que “desenvolvem, adquirem ou utilizam tecnologias avançadas a compreender os riscos éticos que essas tecnologias introduzem e ajudá-las a implementar a infraestrutura necessária para mitigar esses riscos ao longo do ciclo de vida do produto e do serviço”.
O secretário da secção de Cultura do Dicastério, o bispo Paul Tighe, admite, numa nota introdutória à publicação, que pode ser surpreendente ver o Vaticano associado a uma iniciativa desta natureza e neste projeto. Segundo ele, o manual resulta de “um desejo de promover um diálogo inclusivo entre o sector tecnológico e a comunidade humana em geral, cujo futuro será moldado de muitas formas pelas decisões tomadas por aqueles que gerem a inovação”.
Entre os potenciais destinatários deste instrumento contam-se executivos de topo, consultores jurídicos de empresas, defensores da ética tecnológica, executivos e gestores de recursos humanos e executivos e gestores que supervisionam os ciclos de vida de produtos e serviços.
As questões éticas associadas às estratégias, opções e práticas relacionadas com a inteligência artificial, machine learning, encriptação, segurança e privacidade dos dados e a vigilância digital são objeto de recomendações específicas no manual.
Situações e contextos como a automatização de processos e tarefas; utilização de ferramentas de marketing alimentadas por IA (Inteligência Artificial) ou uso de bases de dados comerciais sobre movimentos físicos e virtuais de clientes (como localização por GPS) são exemplos de terrenos onde podem surgir problemas éticos. Há, por outro lado, questões como recolha e utilização de dados e segurança; condução automóvel automatizada; armamento autónomo; ou desenvolvimento de novos produtos farmacêuticos que suscitam problemas para os quais é necessário ter claros os critérios de discernimento e atuação.
O manual de ética é a primeira publicação do ITEC, uma nova iniciativa do Centro Markkula de Ética Aplicada da Universidade de Santa Clara, uma instituição dos jesuítas. O Instituto, que visa “promover uma reflexão mais profunda sobre o impacto da tecnologia na humanidade”, foi desenvolvido, de resto, com o apoio do Dicastério para a Cultura e a Educação do Vaticano.