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Vaticano reconhece redes sociais como parte da nossa vida; problema é “como” estar presente

| 29 Mai 2023

redes sociais foto c pixabay

“As redes sociais são um ambiente onde as pessoas interagem, partilham experiências e cultivam relações como nunca antes”, diz o Vaticano. Foto © Pixabay

 

Escuta, encontro e cuidado são valores e atitudes que o Dicastério para a Comunicação, do Vaticano, gostaria de ver cultivados e promovidos nos meios católicos, no que diz respeito à presença individual e de grupo nas redes sociais.

Num documento ao estilo das encíclicas papais, com data de domingo, 28, festa de Pentecostes, e dado a conhecer esta segunda-feira, 29, o Dicastério desenvolve, numa primeira parte, uma análise do fenómeno das redes sociais, dedicando as três partes restantes a desenhar modos de abordagem e de intervenção, sempre inspirados pela parábola do bom samaritano.

O texto, disponível em cinco línguas, dá logo no título – “Rumo a uma presença plena. Reflexão pastoral sobre o envolvimento com as redes sociais” – o tom geral do documento.

Sobressai uma abordagem que põe em destaque as potencialidades e as “armadilhas” das redes sociais, e o sublinhado de que, no contexto das nossas sociedades, a questão não será tanto se é importante e necessário “estar presente no mundo digital, mas como” estar presente.

“As redes sociais, em particular – diz-se logo no início – são um ambiente onde as pessoas interagem, partilham experiências e cultivam relações como nunca antes. Ao mesmo tempo, porém, como a comunicação é cada vez mais influenciada pela inteligência artificial, é necessário redescobrir o encontro humano no seu cerne”.

O Dicastério para a Comunicação, o único da estrutura da Cúria Romana que é, neste momento, presidido por um leigo, refere que esta iniciativa surge por solicitação de “muitos cristãos” que querem “inspiração e orientação”. O que se viveu em anos recentes no contexto da pandemia da covid-19 evidenciou que o assunto carecia de tratamento aprofundado. A reflexão agora publicada, que envolveu “especialistas, professores, jovens profissionais e dirigentes, leigos, clérigos e religiosos”, é uma resposta a esse pedido.

Elaborada de forma marcadamente pedagógica, o documento não visa dar “diretrizes”, mas “promover uma reflexão partilhada” sobre as experiências digitais, “encorajando os indivíduos e as comunidades a adotarem uma abordagem criativa e construtiva que possa promover uma cultura de boa vizinhança”.

Os autores do texto explicitam igualmente as perguntas a que se procura dar resposta, tais como: “Que tipo de humanidade se reflete na nossa presença nos ambientes digitais? Até que ponto as nossas relações digitais são fruto de uma comunicação profunda e verdadeira, e até que ponto são simplesmente moldadas por opiniões inquestionáveis e reações apaixonadas? Quanto da nossa fé encontra uma expressão digital vibrante e reconfortante? E quem é o meu ´’vizinho’ nas redes sociais?”.

Surgem, já aqui, os primeiros sinais da parábola do bom samaritano, que é proposta por exemplo no evangelho de Lucas (10, 25-37), que costuma ser apresentada como modelo de amor ao próximo, mas que o Papa Francisco tem vindo a utilizar e propor como a “parábola do comunicador”.

 

Fórum que molda valores

As redes sociais são espaço onde o ódio cresce rapidamente. Foto © Josh Withers | Unsplash

As redes sociais não são uma mera ferramenta, mas cada vez mais “um espaço vital”, lê-se no texto. Foto © Josh Withers/Unsplash

 

No contexto da “comunicação integrada”, que assenta na “convergência de processos de comunicação”, as redes sociais, que ganham corpo como fenómeno sobretudo na primeira década deste século, “desempenham um papel decisivo como fórum onde são moldados os nossos valores, crenças, linguagem e pressupostos sobre a vida quotidiana”, observa o documento, no seu n.10. É que essas redes não são uma mera ferramenta, mas cada vez mais “um espaço vital”, configurando um ecossistema comunicacional de informação, entretenimento e outras atividades, “onde se dá a comunicação de valores e crenças fundamentais”.

Porém, os discursos eufóricos da “terra prometida” que foram associados às várias gerações da web, desde os anos 90 do século passado, têm-se mostrado bem mais problemáticos e ardilosos. A promessa de dar voz a todos; de proporcionar acesso à informação e à expressão e, assim, de enriquecer a democracia e a vida das comunidades tem-se confrontado com a desinformação e as ‘notícias’ falsas, a transformação dos utilizadores em consumidores e em “produtos” que alimentam os negócios dos grandes grupos tecnológicos à escala global.

A par disto, cresceram as desigualdades – económicas, mas também digitais – e foram desenvolvidas formas de exploração do negócio das redes que fazem aumentar e tornar viral certo tipo de conteúdos que espalham a divisão e o ódio, em vez da paz e da convivência.

As assim chamadas “bolhas de filtragem” tendem a juntar o(s) semelhante(s) e a excluir o(s) diferente(s), isolando e empobrecendo a vida individual e coletiva, na medida em que expõem a “informações parciais, que corroboram as nossas próprias ideias” e “reforçam as nossas crenças”.

“A consciência destas armadilhas – explica o documento no seu nº 17 – ajuda-nos a discernir e a desmascarar a lógica que polui o ambiente das redes sociais e a procurar uma solução para este descontentamento digital”. Esse caminho passa por saber “apreciar o mundo digital e reconhecê-lo como parte da nossa vida”, tendo a noção de que “é na complementaridade das experiências digitais e físicas que se constrói uma vida e um percurso humano”.

O Dicastério para a Comunicação, inspirado no bom samaritano que ajudou o homem atacado e abandonado por salteadores, dá, ao longo do texto agora publicado várias pistas, todas orientadas no sentido de “humanizar os ambientes digitais”, adotando o ponto de vista dos “marginalizados e feridos digitais”, vítimas da “indiferença, da polarização e do extremismo”.

O desafio passa, então, por “ultrapassar os nossos próprios refúgios, sair do grupo dos nossos ‘semelhantes’ e ir ao encontro dos outros”. Trata-se de “acolher ‘o outro’, alguém que tem posições opostas às minhas ou que parece ‘diferente’”. Para isso, importa “direcionar as ligações digitais para o encontro com pessoas reais, para a formação de relações reais e para a construção de uma comunidade real”, já que, ao fazê-lo, “estamos de facto a alimentar a nossa relação com Deus”.

O silêncio, a escuta deliberada, o discernimento e o cuidado dos outros são caminhos que são apontados como cruciais. “O silêncio, neste caso, pode ser comparado a uma ‘desintoxicação digital’, que não é uma simples abstinência, mas um meio de estabelecer um contacto mais profundo com Deus e com os outros”, salienta o nº 35. “Ao escutar, acolhemos alguém”, esclarece o ponto seguinte.

As pistas fornecidas, cujo alcance não se circunscreve necessariamente ao espaço cristão, não dispensam uma leitura atenta do documento.

 

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