
D. Virgílio do Carmo da Silva é arcebispo de Díli e vai ser feito cardeal pelo Papa Francisco. Foto © José Fernando Real, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons.
Se Jorge Mario Bergoglio pôde dizer que os cardeais da Igreja foram buscar o Papa ao “fim do mundo”, com igual razão o poderia dizer Virgílio do Carmo da Silva que este sábado será instituído cardeal desse jovem país que ocupa metade de uma ilha no sudeste asiático e que dá pelo nome de Timor-Leste. Também ele foi descoberto e escolhido no fim do mundo.
Ele estava num retiro, quando a notícia eclodiu, no domingo da Ascenção, e o representante da Santa Sé no país lhe telefonou. A surpresa foi total e, numa noite de voltas à volta do novo desafio, acabou por encontrar o sentido da missão de que estava a ser incumbido: “Percebi que este é um dom que Deus fez, através do Santo Padre, ao povo e a Igreja de Timor-Leste”, nos 500 anos da sua presença naquele território e nos 20 da independência do país, disse ele, há dias, numa entrevista ao Vatican News.
Com 54 anos, o agora cardeal conta a forma quase natural como surgiu a sua vocação de presbítero: quando quis estudar, contactou o colégio dos salesianos, que existia na região. Foi bem acolhido, eles gostaram dele e ele gostou do que viveu e, além da vocação de padre, foi descobrindo também a de salesiano.
Neste país com 96 por cento da população que se afirma católica, é com entusiasmo que o novo cardeal refere que, durante a celebração do 20º aniversário da independência, o Parlamento Nacional aprovou o Documento sobre a Fraternidade Humana, que foi assinado pelo Papa Francisco e pelo Grande Imã [de Al Azhar] em Abu Dhabi. “Acho que fomos o primeiro país asiático a fazê-lo”, regozijou-se.
Virgílio do Carmo da Silva congratula-se com o facto de Timor-Leste, que ocupa metade de uma ilha com o antigo país agressor, perdoou o que viveu e está hoje em paz com os seus vizinhos.
Do ponto de vista da Igreja, depois de uma fase de acompanhamento da construção do país, de que a fé cristã foi também agente, os desafios agora viram-se sobretudo para a formação: “Devemos garantir que os formadores sejam bem qualificados, especialmente nos seminários. Devemos formar bem os leigos, especialmente os catequistas e outros leigos voluntários, para nos ajudar a aprofundar a fé do povo”, observa.
Uma atenção particular deve ser dada aos jovens, que têm tido, em muitos casos, de abandonar o país, devido ao desemprego e situação de pobreza. “A Igreja continua a estudar como ajudar aqueles que estão longe de sua pátria”, afirma o cardeal.