Virulência na Colômbia: morte continua à solta com covid-19 e guerrilhas

| 27 Abr 20

Fernando Botero, "Guerrilla de Eliseo Velásquez"

Fernando Botero, “Guerrilla de Eliseo Velásquez” (1988)

 

Não devia ser assim mas é: a morte continua à solta na Colômbia, agora também com a desculpa do novo coronavírus. E não se vê maneira de o panorama melhorar.

Grupos armados, uns estruturados, outros mais ou menos, continuam a perseguir quem quer que se lhes oponha e estão a aproveitar a pandemia viral para ganhar mais território e aumentar a sua influência. E a principais vítimas continuam a ser as do costume: líderes sociais ou defensores dos direitos humanos, e, nos últimos tempos até quem não cumpre, veja-se só, as regras do confinamento.

Só nas últimas semanas, num único departamento, Cauca, foram assassinadas 13 pessoas. “A pandemia, assim como as restricções impostas pelo governo e pelas comunidades para travar a propagação do surto, parece que agravaram a situação, já violenta e volátil”, denunciou, em Genebra, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

E no que parece uma perseguição planeada contra determinadas pessoas os alvos têm sido, além daqueles, líderes indígenas e das comunidades afrodescendentes, de acordo com a agência dirigida pela antiga Presidente chilena Michelle Bachelet.

Também a organização de direitos humanos Human Rights Watch acusou grupos armados colombianos, e eles são vários, e de várias orientações e interesses de andarem a pressionar populações das áreas onde mais actuam ameaçando-as com castigos brutais caso não cumpram as normas de confinamento.

O Exército de Libertação Nacional (ELN), a anacrónica guerrilha de inspiração guevarista que anda há meses a discutir a paz com o Governo, difundiu mesmo um comunicado no departamento de Bolívar prometendo causar “baixas humanas” como forma de poupar vidas, denunciou ainda a ONU. E um grupo dissidente das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), a guerrilha marxista que se converteu à democracia e hoje é um partido está a fazer o mesmo junto à fronteira com o Equador.

Depois das FARC terem trocado, em 2016, a guerra pela política, pondo fim a sete décadas de violência, pensou-se que um processo semelhante com o ELN seria coisa para breve, tal como a paz. Mas nada disso aconteceu. Ainda há dias o diário El Espectador, de Bogotá, descrevia a situação colombiana como uma paz própria de cegos, surdos e mudos, uma paz em guerra.

Nem as FARC estão todas rendidas nem o ELN parece disposto a entregar as suas armas. Dos 13.360 integrantes da organização marxista, 12.642 permanecem fiéis ao combinado, é certo, mas 195 foram assassinados, 178 estão ameaçados de morte, 200 andam com escolta e os restantes continuam no mato aos tiros. Quanto ao ELN, continua a pôr condições, condições e mais condições para sair da selva e integrar-se na vida civil.

Pelo meio outros grupos como o Clã do Golfo, uma organização paramilitar comprometida com o tráfico de drogas, que contará com uns 1200 elementos, e ainda Los Pelusos e Los Caparros, não ajudam em nada a fazer da Colômbia um país realmente de paz. Um país que só entre Janeiro e Março viu mais 10 mil deslocados em razão dos seus conflitos. Um país cujos beligerantes não ouviram o apelo do secretário-gheral das Nações Unidas, António Guterres, a um cessar-fogo global e imediato como forma de enfrentarmos juntos o SARS-CoV-2, inimigo da Humanidade.

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