
“…não se poderia pensar numa visita pascal que fosse uma espécie de “arruada” pelas várias ruas e lugares da paróquia, mesmo sem entrar nas casas dos paroquianos?” Foto: Visita pascal em Goios, Barcelos. © José Campinho, cedida pelo autor.
São horas de sinodalizarmos as nossas opções pastorais, a propósito da Visita Pascal de 2022, que se avizinha, para caminharmos juntos e não cada um para seu lado…
É tempo de nos ouvirmos, de conversarmos, de partilharmos ideias e sugestões, para discernirmos juntos as melhores escolhas. Façamo-lo no âmbito dos nossos conselhos pastorais e vicariais, no diálogo franco com as pessoas da comunidade e mesmo com aquelas que nos parecem mais distantes e têm uma palavra a dizer. Através das redes sociais, também podemos escutar e dizer o que nos vai na alma. A conversar é que a gente se entende!
Por isso, valerá bem a pena conversar calmamente sobre a Visita Pascal de 2022. Deixo algumas pistas para uma escuta humilde e para tomarmos a palavra, de forma sensata, corajosa e criativa, sobre os caminhos que podemos percorrer juntos:
1. No contexto de uma pandemia, que não nos largará de vez, mas que dará lugar a uma endemia, com menos restrições no âmbito da convivialidade humana, seria ainda precoce, este ano, fazer uma visita pascal “casa a casa”. Porquê? Os movimentos de entrada e de saída, de proximidade e de contactos entre pessoas de proveniências diversas, podiam potenciar focos de contágio e de propagação do vírus que a ninguém interessa. Estaremos de acordo quanto a isto?
2. Os que, porventura, defendem, já para este ano, uma visita pascal, casa a casa, no estilo tradicional, anterior à pandemia, como sugerem o controlo destes riscos de contágio, provocados por grupos de pessoas que andam de casa em casa? Não estarão as nossas famílias “de pé atrás” relativamente a uma visita pascal, casa a casa? Qual seria a sua recetividade? Não será uma temeridade esta mobilidade?
3. A veneração à Cruz Pascal com um beijo, seja na rua, seja dentro de casa, é uma prática a evitar, por razões sanitárias óbvias. Mas concordamos todos com isto? Não se poderia pensar num gesto diferente de veneração à Cruz: uma inclinação, a oferta de uma flor, a recitação de uma oração pascal ou de uma oração de bênção da cruz, etc.?
4. Eventualmente poderia admitir-se o beijo à Cruz – dirão alguns – desde que esta Cruz (beijada dentro ou fora de casa) fosse única e própria em cada família. Mas isso não poria em causa o sinal comum de uma cruz paroquial pascal? Não seria, mesmo no caso de se beijar uma cruz familiar, um gesto de riscos incontroláveis, tendo em conta que se reúnem em famílias, neste dia, pessoas não coabitantes? Que pensamos disto? O gesto do beijo da Cruz, na visita pascal, não será uma prática a rever, desde agora e para sempre?
5. Para dar alguns passos, num tempo que já é bem diferente daquele que vivemos na Páscoa de 2020 e 2021, não se poderia pensar numa visita pascal que fosse uma espécie de “arruada” pelas várias ruas e lugares da paróquia, mesmo sem entrar nas casas dos paroquianos?
6. Não se poderiam organizar percursos de visita pascal, por ruas e lugares da paróquia, com o toque das campainhas, convocando as pessoas a descerem e a saírem à rua, a virem à porta de casa, a reunirem-se em pequenos grupos, para publicamente saudar e rezar um pouco, em volta da Cruz Pascal e paroquial?
7. Não se poderia, em alguns casos, sinalizar previamente alguns lugares ou zonas da paróquia, onde a equipa da visita pascal parasse para aí fazer uma oração pascal, ou uma oração de bênção e de veneração à Cruz, com os vizinhos dessa zona?!
8. Sendo que os contextos pastorais são muito diversificados, como poderíamos adotar práticas que manifestassem o nosso propósito de “caminhar juntos” também na retoma criativa da Visita Pascal?
Aqui estão algumas perguntas para nos sinodalizarmos. Não são questões de doutrina ou de salvação, mas podem ser oportunidade para nos interrogarmos sobre o modo como estamos a caminhar juntos e que passos o Espírito Santo nos sugere, para recriar ou retomar uma prática tradicional, tão bela, como é esta da visita pascal.
Amaro Gonçalo é padre católico e pároco de Nossa Senhora da Hora, diocese do Porto.