
Nave principal da catedral de Myeongdong, em Seoul. Foto © Jezael Melgoza | Unsplash
A arquidiocese de Seul, na Coreia do Sul, realizou no domingo dia 12 uma celebração de encerramento da fase de escuta sinodal, na qual foi apresentada uma síntese que incorpora o trabalho de 6.038 pequenos grupos e reuniões, em 174 das 232 paróquias, dos quais resultaram 40.000 propostas, segundo relato da agência Fides, e da consulta da síntese diocesana já disponibilizada.
O que a agência não conta é a dificuldade que houve, da parte dos agentes da pastoral local, para levar a compreender o que se pretendia com o sínodo sobre a sinodalidade e sobre a atitude, que se pedia, de “abertura ao Espírito Santo”.
Tanto quanto o motor de tradução do Google permite compreender, a leitura da síntese diocesana, que se encontra em coreano, refere que a primeira dificuldade foi a da falta de tempo para fazer o trabalho de preparação e de lançamento dos pequenos grupos. Mas essa dificuldade foi em certa medida superada, com a decisão do Vaticano de alargar o período da auscultação das dioceses.
“O que é o Espírito Santo?”
Os grandes obstáculos, segundo a síntese, foram de natureza “cultural/linguística”. Desde logo, sobre o que entender por sinodalidade. “Houve uma dificuldade, fundamental e prática, de transmitir o rico significado de ‘synodalitas’, um termo baseado em línguas europeias, para ser plenamente entendido dentro da igreja coreana”, refere o documento.
Nas igrejas coreanas ou asiáticas, andar “juntos, uns com os outros” já é uma maneira de viver na vida cotidiana. Portanto, foi difícil explicar como é que “as experiências de trabalhar juntos, dançar juntos, cantar juntos e viver juntos” se poderiam pôr em “conexão com o conceito de sinodalidade”.
Outra dificuldade foi como compreender “a experiência do Espírito Santo connosco, na nossa vida diária em termos concretos de vida”. É que, segundo se depreende da tradução da síntese “não há conceito relacional que possa explicar o Espírito Santo ‘paráclito’ no quadro cultural da igreja coreana ou da igreja asiática”. Embora o conceito de família possa compreender Deus como Pai e Jesus como Filho de Deus, a relação entre eles “não é familiar”. Procurando explicar melhor: “Acreditamos e sabemos que ‘Deus está connosco e que Jesus Cristo nos salvou’. No entanto, tem sido difícil encontrar e expressar como é que o Espírito Santo (…) permanece connosco, nos guia e está presente nas nossas vidas”.
Finalmente, é-nos dito que foi difícil o desafio sinodal de conversar em reunião de pequeno grupo. Segundo a síntese da diocese de Seul, “a sociedade coreana, marcada pela cultura confucionista, valoriza a idade e a polidez. Além disso, devido à influência da experiência da divisão da Coreia do Norte e do Sul e do confronto ideológico, o padrão de diálogo traduz-se por uma forma de ensinar a outra parte por meio do argumento e da persuasão, ao invés do respeito e da escuta, ou apontar e criticar erros”.
Além disso, é também referido que as mudanças e o crescimento na sociedade coreana, que se tornou rapidamente uma sociedade desenvolvida, originaram assimetrias entre gerações e entre classes, com diferenças de valores que estão a “dificultar a comunicação por meio do diálogo e da escuta da história da outra pessoa”.
Jovens recusam posição subalterna na Igreja
Relativamente ao conteúdo dos encontros dos pequenos grupos, registam-se algumas preocupações e propostas, a título indicativo:
– a Igreja continua a ser uma ‘estrutura vertical e fechada’ que “se expressa em termos de autoritarismo, pois dá a impressão de que os fiéis têm dificuldade em se acercar do clero”.
– Criou-se entre os crentes “a perceção negativa de que a igreja não é um lugar para ouvir e viver uma vida espiritual, mas um lugar para instruir e impor”.
– Há casos de irmãos e irmãs já há muito tempo a trabalhar na Igreja que mostram atitudes de exclusão e até de discriminação em relação aos recém-chegados ou batizados.
– Muitos participantes expressaram preocupação com o envelhecimento da comunidade da igreja e mencionaram a necessidade e o esforço para revitalizar o cuidado com crianças e jovens.
– Os jovens sentiram um grande fardo com as atividades paroquiais e reclamaram que estavam espiritualmente cansados por terem apenas funções auxiliares na comunidade. Querem participar nos conselhos pastorais, expressar as suas opiniões com ousadia.
– Como muitas atividades na igreja são feitas por mulheres, isso rompe com a perceção social patriarcal existente. Mas ao mesmo tempo falta pesquisa e apoio a atividades que respeitem e promovam a dignidade da mulher na igreja e fornecer ajuda às vítimas de violência doméstica, exploração sexual, prostituição, aborto, etc.
– A Arquidiocese de Seul ouviu as opiniões das pessoas LGBT que sentem dificuldades para serem aceites pela igreja. Destacaram o problema do suicídio de jovens LGBTQ, em geral, e de jovens LGBTQ que são crentes, em especial.
– O arcebispo de Seul e administrador apostólico de Pyongyang procurou ouvir as opiniões dos desertores norte-coreanos, que se queixam de falta de acompanhamento.
– Identificou-se que a razão para a falta de “consciência missionária” e passividade na sua implementação se devia a ‘não haver um estabelecimento firme de identidade como cristão’.
Na eucaristia de encerramento, realizada na catedral de Myeondong, o arcebispo local, Peter Chung Soon-taick, O.C.D, que é também administrador apostólico de Pyongyang, capital da Coreia do Norte, expressou a sua gratidão a todos os que participaram nesta fase diocesana da jornada sinodal, “especialmente às mulheres, aos deficientes, aos refugiados norte-coreanos, aos migrantes e a todos os jovens que se manifestaram, oferecendo as suas opiniões enquanto filhos de Deus, para promover e construir uma Igreja verdadeiramente sinodal”.
Cerca de 30 pessoas de diferentes situações e estados da vida eclesial integraram o cortejo litúrgico, precedendo o arcebispo a caminho do altar.
O arcebispo vincou que a fase diocesana do caminho sinodal “não é o fim, mas apenas o começo de uma Igreja sinodal”. As dificuldades com o Espírito Santo e o mistério da Trindade talvez expliquem a insistência do arcebispo neste tema, quando salientou que “o Espírito Santo foi o protagonista da fase diocesana do Sínodo da sinodalidade e continuará a sê-lo até a conclusão de todo o processo sinodal”.
Maioria da população não tem religião
Segundo dados da Wikipedia, que cita como fontes o conceituado Pew Research Center (dados de 2010) e o recenseamento feito no país em 2015, a maioria da sociedade sul-coreana, sobretudo entre as gerações mais novas, declara não pertencer a uma confissão religiosa. Os cristãos são a confissão maioritária (27,6 por cento, dos quais 19,7 por cento protestantes e 7,9 por cento católicos). Os budistas representam 15,5 por cento.
Ainda segundo a mesma fonte, antes da divisão da península da Coreia em dois países, no fim da Segunda Guerra Mundial, os cristãos viviam sobretudo no Norte. Com a divisão e o regime dominante na Coreia do Norte, muitos fugiram para a Coreia do Sul.
Segundo a Wikipedia, o peso do xamanismo tradicional deve ser bem mais forte do que sugerem os inquéritos e recenseamentos, visto que o Estado sul-coreano desenvolveu políticas orientadas para a sua marginalização, o que terá levado também ao “fortalecimento do cristianismo e ao renascimento do budismo”.
OBS – Não foi possível validar as citações que resultaram da utilização do tradutor automático da Google.