Voluntários no mundo – ‘És meu irmão amigo, és meu irmão’

| 27 Dez 2022

Máscara, Pandemia, Voluntariado, Solidariedade, Braga, Catarina Soares Barbosa

Voluntários na associação Virar a Página, em Braga, a preparar refeições solidárias: um “trabalho inspirador”. Foto © Catarina Soares Barbosa.

 

Parte do título desta crónica nasce do poema “Quando um homem quiser”, da autoria de José Carlos Ary dos Santos, musicado por Fernando Tordo e que Paulo de Carvalho haveria de eternizar num single editado pela Orfeu em 1975.

(…) Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
tu que inventas bonecas e comboios de luar
e mentes ao teu filho por não os poderes comprar
és meu irmão, amigo, és meu irmão (…)

Em criança, quando ouvia na rádio esta canção, chorava. Dentro do que eram as minhas referências ainda escassas do mundo, adivinhava-lhe o sentido.

Na sua forma mais simples, que até uma criança entende, ser solidário começa assim, neste imaginar-se na condição do outro, neste entender a sua dor, mesmo que não se saiba que a isso se chama empatia. Para uma criança, bastará. Mas à medida que crescemos, crescem as dores do mundo, e vamos percebendo que não basta a nossa empatia para as sossegar, muito menos para as curar. É preciso ação. E é neste sentido de urgência que emerge o voluntariado como uma das formas mais nobres e mais belas de expressar a nossa humanidade, de sermos verdadeiramente irmãos do Outro.

No passado dia 5 de dezembro celebrou-se o Dia Internacional do Voluntariado. No meio de tantos números catastróficos e estatísticas tristes que costumam inundar os nossos dias, há um número que nos traz esperança: são quase 863 milhões os voluntários em todo o mundo! Segundo as Nações Unidas, 14,3% realiza um voluntariado informal (a título individual, de forma mais ou menos espontânea, ora esporádica, ora mais continuada), enquanto 6,5% realiza um voluntariado formal (através por exemplo de um contrato de trabalho com uma organização ou associação de natureza solidária ou humanitária), e a larga maioria realiza atividades em ambas as dimensões do voluntariado. Estou certa de que entre os que leem esta crónica, estão homens e mulheres que fazem parte destes quase 863 milhões de voluntários! São homens e mulheres que dão parte de si, por vezes mesmo tudo de si, pelo bem dos outros.

Nesta altura do ano, começam a aparecer reportagens sobre as equipas de voluntários que assistem os sem abrigo nas noites frias, que preparam as refeições quentes dos esquecidos das nossas cidades iluminadas… Mas esta humanidade em ação, é bom que nos lembremos, trabalha todos os dias do ano, quando não está lá mais ninguém para a ver. Está lá, na reabilitação física e psicológica de toxicodependentes, no apoio domiciliário aos idosos, na inclusão social de crianças e jovens de bairros pobres, na recuperação social de prisioneiros, na reconquista de autoestima de vítimas de violência, no acolhimento de imigrantes e de refugiados. Está onde mais a solidão oprime e o medo aperta, nas salas de espera e enfermarias dos hospitais… Está em tantos lugares, em tantos rostos. E onde esta humanidade está, está a esperança.

O trabalho de quem incansavelmente se dedica aos outros, sem julgar, sem condenar, sem desistir, sem expectativa de outro retorno que não seja o de fazer o bem, é um trabalho muito exigente, mas também inspirador. Exigente porque nem todos o conseguimos imitar de uma forma minimamente consistente ao longo da nossa vida. Mas inspirador porque nos convida renovadamente à mudança que ajuda e salva. Que ajuda o próximo, e que nos salva da vertigem da nossa indiferença, do poço fundo da nossa autocomiseração, do deslumbre ofuscante da caridade pontual ou da beneficência vaidosa.

Os voluntários levam nos olhos e nos gestos esta mensagem que diz “És meu irmão, amigo, és meu irmão.” Se pensarmos bem, os voluntários transportam consigo o Advento, porque o Advento é Esperança, e Esperança é o que os voluntários levam em cada gesto de humanidade que partilham. Por isso, aos voluntários e voluntárias do Mundo, toda a nossa gratidão.

 

Isabel Estrada Carvalhais é deputada pelo Partido Socialista ao Parlamento Europeu, professora associada da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho e doutorada em Sociologia. Este texto foi inicialmente publicado no Correio do Minho.

 

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