
Além do património físico, destruído pelas bombas, é preciso preservar o que está em computadores e arquivos digitais. Foto © UNICEF
Salvar a memória e a história da Ucrânia que o exército russo está a destruir é o grande empreendimento que mais de um milhar de profissionais e voluntários estão a desenvolver, numa luta contra o tempo.
Este trabalho, que visa fazer backup (cópia de segurança) dos arquivos digitais ucranianos, recorre a ferramentas de código aberto, foi desencadeado pouco tempo depois do início da invasão, quando se começou a perceber que, ao contrário do que o Kremlin anunciara, os bombardeamentos atingiam alvos civis e zonas residenciais.
Mais do que isso: no início, a Rússia tratou de, em simultâneo com os misseis, desencadear uma série de ciberataques que atingiram as comunicações por satélite do exército ucraniano e afetaram as comunicações civis, pelo menos em algumas zonas do país.
A ideia, segundo contava há dias, no diário Washington Post, o repórter de tecnologia Pranshu Verma, surgiu logo em 26 de fevereiro, quando uma bibliotecária de música da Universidade Tufts, recorreu ao Twitter para “perguntar se algum voluntário se juntaria a ela para uma ‘sessão virtual de resgate de dados’, que visava preservar coleções musicais ucranianas que poderiam ser perdidas na guerra”.
Outros esforços surgiram de outros lados com idêntica preocupação e, rapidamente nasceu um movimento articulado designado Salvar o Património Cultural Ucraniano Online, evitando o risco de perder a documentação crucial para memória futura. As autoridades culturais do país rapidamente perceberam que essa era “a tábua de salvação” decisiva em que valia a pena apostar.
Os acervos digitais de mais de 2500 instituições, entre museus, bibliotecas e arquivos em menos de um mês ocupavam já mais de 25 TB (terabytes) que incluem a história de cidades judaicas na Ucrânia, fotografias de locais de escavação na Crimeia e exposições digitalizadas do Museu Literário de Kharkiv.
Entretanto, especialistas de tecnologias informáticas, historiadores e instituições de diversos países, como os Estados Unidos e a Áustria, rapidamente deram uma dimensão internacional a este trabalho, colaborando na formação de voluntários e na busca das melhores soluções tecnológicas para o projeto.
Os voluntários instituíram vários modos de funcionamento. Num deles, trata-se de procurar encontrar novos voluntários em cidades que acabam de ser bombardeadas, procurando instruí-los de modo a que façam o backup de acervos de instituições locais, antes que, eventualmente, fiquem offline.
“Se pudermos salvar essas coisas, provaremos que a Ucrânia tem uma história”, disse ao Washington Post um historiador que colabora neste projeto a partir de Viena. “[Se] eles desaparecerem para sempre … isso apenas abrirá um buraco negro na história de um lugar que durará para sempre”, acrescentou.