Zero penitentes

| 30 Mar 2023

padre durante o sacramento da confissao Foto c Pexels

“O sacramento da Penitência ou da Reconciliação, a confissão auricular – determinada como obrigatória, pelo menos uma vez por ano, pelo Concílio de Latrão, em 1215 – oscila entre a má memória para muitos, a purga psiquiátrica para outros e o perdão ainda como presença activa.” Foto © Pexels

 

Apesar do incremento que lhe vai dar a Jornada Mundial da Juventude, com 150 confessionários estendidos pelo Parque do Perdão, em Belém, com a particularidade de serem manufacturados por presos de algumas cadeias portuguesas, o sacramento da Penitência ou da Reconciliação, a confissão auricular – determinada como obrigatória, pelo menos uma vez por ano, pelo Concílio de Latrão, em 1215 – oscila entre a má memória para muitos, a purga psiquiátrica para outros e o perdão ainda como presença activa.

Para nenhum penitente aconteceu essa confissão auricular, nas vésperas do último Natal, numa diocese do norte do país. Por duas horas, três párocos sentaram-se nos respectivos confessionários, de modelo tradicional. Durante esse tempo, nenhum penitente para ali dirigiu os passos. Ninguém se levantou nem se ajoelhou. Ninguém pediu perdão.

Semelhante colheita obtiveram os mesmos padres numa paróquia vizinha em que os penitentes não chegaram a uma dúzia: três para dois deles, quatro para o terceiro. As mesmas duas horas em tempos de Advento. Mais recentemente, foi uma plateia completa de crianças que não avançou para os mesmos confessionários, eventualmente desmotivadas pelos pais de o fazer.

(Quão longe vão as “confessadas” de antanho que juntavam párocos e párocos, brindados, no fim daquela actividade pastoral, com simpáticos jantares…)

 

Perdas quase completas

“O número de participantes nas missas dominicais tem descido. Estão em redução as inscrições na catequese, não havendo mesmo nenhumas em algumas paróquias.” Foto © ACN-Portugal

 

Estes são alguns dados para a avaliação da pastoral que se faz, actualmente, na Igreja Católica que está em Portugal. O número de participantes nas missas dominicais tem descido. Estão em redução as inscrições na catequese, não havendo mesmo nenhumas em algumas paróquias. Os operários perderam-se para a Igreja já nos anos 70 do século passado. Os jovens já lá não estão também. Falta perder as mulheres que já tiveram presença na Igreja na ordem dos 85%.

Restam ainda nos templos, com relativa abundância, os velhos, eles e elas, com a religiosidade possível. Os antigos movimentos da Acção Católica, em diferentes tons, são reminiscências de grata memória, mas também agonizantes. Os seminários permanecem dramaticamente vazios. Ao contrário, subsistem fulgurantes, por todo o mundo, as saudades do latim e da liturgia arcaica dos seguidores do arcebispo Lefébvre, excomungado por João Paulo II e reabilitado por Bento XVI. Há também, entre nós, em vários templos do país, saudosistas dessas “liturgias encardidas pelo tempo”.

Enquanto Roma vigia o ensino eclesiástico na Espanha, por lá gravitam, com sucesso, os seminários Redemptoris Mater do Caminho Neocatecumenal do inspirado Kiko Argüello. Entre nós estão prósperos, esses seminários, nas dioceses de Lisboa, Porto, Braga, Évora e Beja.

Por outras liturgias ainda brilham e trinam pregoeiros do trompete, de fardas bem forradas, em passadeiras vermelhas. Por outro lado, e por todo o país, milhentas residências paroquiais apodrecem, sem inquilinos. Não sobra sensibilidade para aí erguer creches, centros de dia ou outros equipamentos necessários.

 

Uma fé incipiente?

É sabido que se desenvolvem epifenómenos, ditos espirituais, apadrinhados por “aparições” a “claros videntes”, em tempos de guerra. E não só na Bósnia-Herzegovina…

Onde está a doce serenidade da mensagem do hábil carpinteiro de Nazaré, Jesus, que deu azo a nobres catedrais e mesas domésticas, onde se fazia a partilha do pão e se transmitia a ajuda solidária, a quem não aguentava o chão da vida? Estamos na iminência de perder o suor e as lágrimas de quem acredita numa fé ainda que incipiente?

Não tenha servido a pandemia de panaceia para justificar a afasia de uma Igreja que já bateu no fundo (vejam-se as procissões dos abusos sexuais do clero, ainda sem penas para os abusadores e pouca sensibilidade para as vítimas), perdendo capacidade para dar mão à Esperança. E a precisar de ressurreição.

 

Manuel Vilas Boas é padre e jornalista.

 

Os silêncios de Pio XII foram uma escolha – e que custos teve essa opção?

“A Lista do Padre Carreira” debate

Os silêncios de Pio XII foram uma escolha – e que custos teve essa opção? novidade

Os silêncios do Papa Pio XII durante aa Segunda Guerra Mundial “foram uma escolha”. E não apenas no que se refere ao extermínio dos judeus: “Ele também não teve discursos críticos sobre a Polónia”, um “país católico que estava a ser dividido pelos alemães, exactamente por estar convencido de que uma tomada de posição pública teria aniquilado a Santa Sé”. A afirmação é do historiador Andrea Riccardi, e surge no contexto da reportagem A Lista do Padre Carreira, que será exibida nesta quarta-feira, 31 de Maio, na TVI, numa parceria entre a estação televisiva e o 7MARGENS.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

JMJ realizou em 2022 metade das receitas que tinha orçamentado

A Fundação Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 obteve no ano passado rendimentos de 4,798 milhões de euros (menos de metade do previsto no seu orçamento) e gastos de 1,083 milhões, do que resultaram 3,714 milhões (que comparam com os 7,758 milhões de resultados orçamentados). A Fundação dispunha, assim, a 31 de dezembro de 2022, de 4,391 milhões de euros de resultados acumulados em três anos de existência.

Debate em Lisboa

Uma conversa JMJ “conectada à vida”

Com o objectivo de “incentivar a reflexão da juventude” sobre “várias problemáticas da actualidade, o Luiza Andaluz Centro de Conhecimento (LA-CC), de Lisboa, promove a terceira sessão das Conversas JMJ, intitulada “Apressadamente conectadas à vida”.

“É o fim da prisão perpétua para os inimputáveis”, e da greve de fome para Ezequiel

Revisão da lei aprovada

“É o fim da prisão perpétua para os inimputáveis”, e da greve de fome para Ezequiel novidade

Há uma nova luz ao fundo da prisão para Ezequiel Ribeiro – que esteve durante 21 dias em greve de fome como protesto pelos seus já 37 anos de detenção – e também para os restantes 203 inimputáveis que, tal como ele, têm visto ser-lhes prolongado o internamento em estabelecimentos prisionais mesmo depois de terminado o cumprimento das penas a que haviam sido condenados. A revisão da lei da saúde mental, aprovada na passada sexta-feira, 26 de maio, põe fim ao que, na prática, resultava em situações de prisão perpétua.

Especialistas mundiais reunidos em Lisboa para debater “violência em nome de Deus”

30 e 31 de maio

Especialistas mundiais reunidos em Lisboa para debater “violência em nome de Deus” novidade

A Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) acolhe esta terça e quarta-feira, 30 e 31 de maio, o simpósio “Violence in the Name of God: From Apocalyptic Expectations to Violence” (em português, “Violência em Nome de Deus: Das Expectativas Apocalípticas à Violência”), no qual participam alguns dos maiores especialistas mundiais em literatura apocalíptica, história da religião e teologia para discutir a ligação entre as teorias do fim do mundo e a crescente violência alavancada por crenças religiosas.

Agenda

There are no upcoming events.

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This