PR no encerramento da Jornada da Memória e da Esperança

“Viemos aqui pelos mais esquecidos. Eles, mais do que todos, são portugueses”

| 25 Out 2021

O Presidente da República plantou uma Árvore da Memória no Hospital de Santa Maria, uma Árvore da Esperança ficou no Estádio Universitário de Lisboa, enquanto duas bandas militares encheram de música a praça do Rossio, em Lisboa, com muitos turistas a querer saber o que se passava. Foram as cerimónias conclusivas da Jornada da Memória que, durante três dias, mobilizou milhares de pessoas por todo o país.

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e a médica Isabel do Carmo a plantarem a Árvore da Memória no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Foto © Miguel Veiga

 

“Aqui estamos, neste 24 de Outubro de 2021 em Jornada de Memória, de Esperança, de Compromisso. Por Portugal, que o mesmo é dizer por todos os portugueses e, neles, pelos mais pequenos, os mais sofridos, os mais esquecidos. Eles como todos, mais do que todos, são portugueses.”

Foi desta forma que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, concluiu a sua intervenção de encerramento da Jornada da Memória e da Esperança, depois de ter plantado uma azinheira como “Árvore da Memória”. A Jornada foi promovida por uma centena de cidadãos de diferentes áreas profissionais, culturais, religiosas e políticas, com o objectivo de fazer o luto colectivo da pandemia, homenagear as vítimas e quem ainda sofre com a covid-19 e afirmar a esperança de uma sociedade mais inclusiva e solidária.

Marcelo Rebelo de Sousa: “A pandemia ainda não é passado fechado, como se vê por vários cantos do mundo.” Foto © Miguel Veiga

 

A cerimónia conclusiva, após três dias de duas centenas de iniciativas em todo o país, decorreu nos jardins de entrada do Hospital de Santa Maria (HSM), em Lisboa, ao final da tarde deste domingo.

O Presidente referiu-se à ideia da Jornada como “um gesto de espírito e amor”, que convocou para celebrar não “ainda o virar definitivo da página, a catarse, a libertação colectiva, como a que alguns viveram no fim da Grande Guerra [1914-18] e da gripe espanhola há 100 anos”. “A pandemia ainda não é passado fechado, como se vê por vários cantos do mundo, mas hoje já é tempo para esta jornada de memória e de esperança”, acrescentou.

Referindo-se à dimensão da memória, citou: “A memória das vidas ceifadas, das saúdes sacrificadas, das famílias e comunidades atormentadas, dos sonhos adiados ou destruídos dos empregos, dos salários, dos rendimentos atingidos, do país tantas vezes suspenso. E também a memória das devoções, das abnegações, das lutas sem repouso de milhares e milhares, a começar nos heróis da saúde, aqui lembrados, mesmo em frente de Santa Maria, um dos inúmeros exemplos do serviço total aos outros, exemplos repetidos por todo o Portugal.”

O médico António Silva Graça, da comissão promotora da Jornada, e o reitor da Universidade de Lisboa, Luís Ferreira, plantam a Árvore da Esperança (uma oliveira) no Estádio Universitário. Foto © Miguel Veiga

 

Esta memória fica simbolizada, disse ainda Marcelo, pela azinheira que tinha sido plantada minutos antes pelo Presidente e pela médica Isabel do Carmo, que trabalha em Santa Maria e integra a comissão promotora da Jornada. E também pela oliveira que, duas horas antes, quase em frente, nos terrenos do Estádio Universitário, o reitor da Universidade de Lisboa, Luís Ferreira, e o médico António Silva Graça, tinha também sido plantada . Essa oliveira que “centenas, milhares de jovens acolherão anos a fio no Estádio Universitário”, disse o Presidente.

 

“A vida que temos de construir”

Sobre a dimensão da esperança, o Presidente disse que ela se manifesta em relação à vida, à saúde, à educação, à superação, ao futuro, “porque há sempre vida para além da morte – a vida que temos de construir já começámos a construir, nas ruínas das nossas dores, das nossas mágoas, dos nossos sofrimentos, das nossas provações”.

Mas à “memória para que ninguém jamais esqueça, esperança para que ninguém jamais se resigne”, o Presidente da República acrescentaria “o compromisso: não basta lembrar, não basta esperar, é preciso fazer.” E sublinhou: “O compromisso de tudo fazer para que se não tenha de ir de memória em memória, de esperança em esperança, fazer a pensar na vida, na saúde, na solidariedade, no futuro que se antecipa antes que seja memória consumada ou esperança redescoberta.”

O secretário de Estado da Educação, o presidente da administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte, o presidente da Câmara de Lisboa, o Presidente da República e o presidente da Assembleia da República. Foto © Miguel Veiga

 

Além do Presidente da República, a cerimónia de plantação da Árvore da Memória contou com a presença do presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, do secretário de Estado Adjunto e da Educação, João Costa, do presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, e presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte (onde se integra o HSM), Daniel Ferro.

Na sua curta intervenção, este responsável destacou que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi até ao limite no combate à pandemia e que mobilizou todos os recursos para o efeito. Referiu um número como exemplo: no HSM e em Portugal, “a taxa de sobrevivência de doentes críticos foi na ordem dos 80%”.

“Estímulos da sociedade” como o da Jornada da Memória e da Esperança “só contribuíram para reforçar a motivação dos profissionais”, acrescentou Daniel Ferro, que garantiu que “a sociedade e o país podem ter confiança nos serviços de saúde”, que hoje estão “mais bem preparados” para enfrentar situações como a que temos vivido.

As Bandas de Marvila e da Carris, na cerimónia conclusiva da Jornada. Foto © Miguel Veiga.

 

A cerimónia conclusiva da Jornada da Memória e da Esperança teve a participação da Banda de Marvila e da Banda da Carris, ambas da cidade de Lisboa, bem como da Associação Columbófila do Distrito de Lisboa. Também um grupo informal de crianças e jovens alunos de música cantou a música Longe de Ti Esqueci o Caminho. Composta por Rute Prates (que dirigiu o coro), com letra de Samuel Nobre e arranjos de Ana Sofia Sequeira (que tocou guitarra), a sua execução contou ainda com Abel Carvalho no contrabaixo, e pode ser vista em vídeo na página da Jornada. Alunos e professores das escolas Luís Sttau Monteiro (Loures) e Luísa de Gusmão (Lisboa) estiveram também presentes com vários cartazes e faixas produzidos no âmbito da Jornada.

 

“Marcas de saudade e gratidão”

O coro de crianças e jovens que cantou a canção “Longe de ti, esqueci o caminho”. Foto © Miguel Veiga.

 

Em nome da comissão promotora da Jornada, a professora universitária Inês Espada Vieira fez também uma intervenção sobre a origem e o sentido da iniciativa: na Primavera deste ano “– há poucos meses, há muito tempo –, a confiança nas instituições democráticas e na ciência levou um grupo de cidadãos a preparar um manifesto para apresentar a proposta de uma Jornada que pudesse assinalar esse futuro que a Primavera nos deixava entrever”.

A memória colectiva “está profundamente ligada à identidade de um grupo, à identidade da nação”, afirmou, para acrescentar: “Olhar em conjunto para o passado recente é um momento cívico essencial”, até porque “sem memória não há futuro, sabemo-lo bem”.

Grupo de alunos da Escola Luísa de Gusmão (Lisboa) com um dos cartazes produzidos na escola, no âmbito da Jornada da Memória e da Esperança. Foto © Miguel Veiga.

 

Voltando-se para um grupo de profissionais de diferentes sectores que participaram também na evocação, disse, no que foi sublinhado por um aplauso: “Viemos honrar os nossos mortos e agradecer o compromisso de quem nunca parou: profissionais de saúde, da educação, dos transportes ou da recolha do lixo; bombeiros ou forças de segurança; padeiros e agricultores; trabalhadores de supermercados, jornalistas, psicólogos… Temos aqui connosco representantes profissionais de todos estes setores de atividade e por isso dizemos publicamente que estamos, como país, muito gratos a todos vós.”

Margarida Freitas, aluna do 7º ano da Escola Secundária Domingos Rebelo, de Ponta Delgada (São Miguel, Açores), escreveu a propósito, num dos trabalhos realizados pela escola no âmbito da Jornada: “Sei que estás aí, médico, enfermeiro, polícia, bombeiro, agricultor, pescador, padeiro!… Por mim, por nós e por todos. Sei que podes não ter salário, as condições de trabalho que mereces, mas dás a vida por nós. De manhã cedinho acordas (…)  Quero que saibas que (…) ainda que não te conheça, nunca irei esquecer-te, porque sei que estás aí, por mim, por nós, por ti.”

As árvores plantadas – não apenas nas cerimónias do HSM e do Estádio, mas também em muitas outras iniciativas por todo o país, são “a marca exterior de sentimentos profundos de saudade e gratidão” e também da “esperança num futuro comum mais solidário e mais justo”, bem como de um “horizonte inspirado em tantas acções concretas que testemunhámos e de que fomos protagonistas durante o último ano e meio”.

 

A reviravolta

Cartazes feitos pelos alunos da Escola Luís Sttau Monteiro (Loures) na cerimónia conclusiva da Jornada da Memória e da Esperança, 24 Outubro 2021, no Hospital de Santa Maria. Foto © Miguel Veiga.

 

“Reconhecendo as nossas fragilidades, procuramos sempre ser melhores”, afirmou ainda Inês Espada Vieira. “E não de forma lírica ou imaginada: ser melhores concretamente. Na qualidade da nossa democracia, na educação, no trabalho, na assistência na saúde, na cultura, na erradicação da pobreza, no apoio à infância e à velhice, na luta contra a desigualdade de género ou contra o racismo, na participação cívica inclusiva, na procura de uma economia realmente sustentável, no cuidar do planeta, a nossa Casa Comum.”

Além da cerimónia conclusiva e da plantação da Árvore da Esperança no Estádio Universitário, o dia lisboeta da Jornada da Memória e da Esperança iniciara-se no Rossio, com a Banda da Força Aérea e a Banda da Armada a tocarem durante cerca de hora e meia peças dos seus repertórios, diante de um auditório de centenas de pessoas, incluindo muitos turistas. A juntar a todas as actividades que se realizaram nestes três dias pelo país, foi mais um tributo, como dizia o texto lido no início de todas as iniciativas realizadas no país, “aos que, apesar da pandemia ou por causa dela, plantam, investigam, colhem, produzem, criam, servem, contemplam, encantam, informam, cuidam, ensinam, partilham”.

A Banda da Força Aérea a tocar no Rossio (Lisboa), na manhã de domingo. Foto © Miguel Veiga.

 

Num texto com o título “A reviravolta”, Maria Lua Benjamim, aluna do 7º ano de escolaridade da Escola açoriana Domingos Rebelo, escreveu: “De um momento para o outro o mundo parou. Parecia que tinha havido uma guerra, estava tudo silencioso, escuro, todos estavam em casa fechados, a Terra tinha parado. Fecharam-se empresas, escolas, restaurantes (…) Crianças que não puderam acompanhar a escola não tinham os seus amigos para brincar e falar, pois não tinham recursos. Os professores tiveram o dobro do trabalho. (…) O ensino passou a ser por um novo formato. Os homens que recolhiam o lixo tiveram muito mais trabalho. A economia quebrou. E a saúde desequilibrou. Profissionais de saúde que não iam a casa e não viam a sua família, que faziam turnos seguidos. A partir daí houve muito mais solidariedade e um novo pensamento sobre a vida. Por exemplo deram importância aos abraços, aos beijinhos, aos intervalos e aos “olás” na rua – coisas que nunca pensaram que iriam sentir a falta…”

Mural Memória e Esperança da Escola Secundária Domingos Rebelo, nos Açores, com mensagens de alunos, professores e outros cidadãos de Ponta Delgada. Foto: Direitos reservados.

 

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