
Foi precisamente em Setúbal, quando estava a acompanhar a montagem dos kits de peregrinos da JMJ, que Américo Aguiar soube da sua nomeação cardinalícia. Foto © Ricardo Perna/JMJ.
O bispo Américo Aguiar considera uma “honra” ter sido nomeado para a diocese de Setúbal, onde diz chegar sem “um programa pastoral escrito, nem decisões previamente tomadas”, mas “de coração aberto, com os medos normais de quem se sabe frágil porque humano”. Numa declaração aos jornalistas, que o próprio convocou para estarem consigo no Paço Episcopal do Porto, às 11 horas desta quinta-feira – altura em que a Santa Sé publicou o anúncio oficial da nomeação -, o futuro cardeal não quis fazer promessas, mas assegurou que o Papa Francisco será uma grande inspiração para a sua nova missão.
“As promessas cumprem-se, mais do que se fazem. No dia de hoje, não me sinto capaz de grandes promessas, mas comprometo-me a cumprir a sugestão que o Papa Francisco nos deixou numa das suas intervenções durante a visita ao Bairro da Serafina em Lisboa: «Continuai para diante e não desanimeis! E se desanimares, bebei um copo de água e segui para a frente!»”, afirmou o futuro bispo de Setúbal.
Apesar de não ter um programa pastoral escrito, Américo Aguiar, 49 anos, sublinhou que tem “na memória do coração muitas das palavras do Papa Francisco que escutámos naquela primeira semana do passado mês de agosto e tantas outras que o Papa não se cansa de repetir”, nomeadamente que “a Igreja é de todos e para todos” e que é necessário sermos “capazes de correr riscos e corajosos a denunciar a pobreza, a injustiça, a mentira e tudo o que nos diminui enquanto humanidade”.
O presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude assinalou ainda a importância da “tolerância zero a qualquer forma de abuso sobre menores e adultos vulneráveis” e de “ouvir os jovens, dar-lhes espaço, capacidade de decidir, de optar, de construir a Igreja do presente e do futuro”.
Falando a partir do local onde passou a maior parte do seu tempo ao serviço da Igreja, no Porto, Américo Aguiar destacou a “relação de amizade com D. Manuel Martins”, primeiro bispo da diocese de Setúbal, “um Bispo inquestionável na história da Igreja em Portugal, que se fez grande ao lado dos mais pequenos, dos mais pobres, dos mais esquecidos”, com quem conversou “muitas vezes” [ambos nasceram em Leça do Balio, Matosinhos] e de quem se lembrou “de imediato” ao receber a notícia de que havia sido nomeado para aquela diocese.
Assinalando a coincidência de ter recebido a notícia da sua nomeação como cardeal precisamente em Setúbal – num armazém da cidade onde estava a ser feita a montagem dos kits para a Jornada Mundial da Juventude – o novo bispo diz não ter “a pretensão de ser capaz de tanto [como D. Manuel Martins]”. Mas assegura: “quero seguir este caminho de entrega, de fidelidade, de capacidade de levar o anúncio do Evangelho, acreditando de corpo e alma que a justiça e a paz são fruto da ação de Deus, sempre que os homens e mulheres de boa vontade assim o permitem. Quando somos capazes de abrir os nossos corações sem medo, permitimos que Nosso Senhor opere as maravilhas que sonhou para cada um de nós”.
Reações à “feliz notícia”
Num comunicado divulgado após o anúncio oficial da nomeação, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) felicitou Américo Aguiar. “Pessoalmente, como bispo emérito de Setúbal, dou graças a Deus e alegro-me por esta nomeação, que vem ao encontro da necessidade da Diocese, após este tempo de sede vacante”, pode ler-se no texto assinado pelo presidente da CEP, José Ornelas, que deixou Setúbal em janeiro do ano passado, aquando da sua nomeação como bispo de Leiria-Fátima.
Também o padre José Lobato, que desempenhou as funções de administrador diocesano durante o período de sede vacante, manifestou a sua “alegria” com “a feliz notícia” da nomeação do bispo Américo Aguiar. “Ele vem para continuar percursos, nem sempre fáceis, iniciados e percorridos com esperança e com dor pelos seus antecessores e por este ‘bom povo de Setúbal’, como nos chamava o nosso 1º Bispo”, escreveu numa nota publicada no site da diocese.
“A maravilhosa diocese de Setúbal é hoje formada e distingue-se pela pluralidade, e o Senhor D. Américo, com o seu apurado sentido de serviço, possui as capacidades apropriadas para fazer desse pluralismo uma riqueza de caminhos para a paz”, escreveu por seu lado o patriarca de Lisboa, Rui Valério, a quem a notícia da nomeação encheu “de alegria e de esperança”.
Agradecendo a Américo Aguiar “a forma dedicada e com elevada abnegação” com que serviu o Patriarcado de Lisboa, Rui Valério destacou, na sua saudação, que “foi enquanto estratega da JMJ que o seu carisma de líder mais sobressaiu, tendo-se revelado um bispo com capacidades ímpares na concretização de projetos, na promoção de diálogo e na arte de envolver todos num objetivo único e comum”.
Questionado sobre os problemas sociais que marcam a Península de Setúbal, numa curta entrevista à agência Ecclesia publicada durante a manhã de quinta-feira, o bispo Américo Aguiar disse por seu lado que nunca deixou de “ter essa preocupação”, dispondo-se a lutar pelos sonhos dos habitantes da região. “Sinto as dores dos homens e das mulheres da Península de Setúbal que eu quero que continuem a sonhar! Eu quero lutar com eles por esses sonhos”, afirmou.
E também ele se mostrou muito satisfeito com a sua nova missão: “Estou contente, estou feliz, estou animado! Nem todos os portugueses têm de ir para fora do país para concretizar a sua vocação. Estou muito feliz e sinto verdadeiramente a mão de Deus nesta nomeação do Papa Francisco. É a minha cara, é a minha cara”.