Diários de quarentena (8): Viver confinado – (Part)Ida, poema de Daniel Faria e música de Alfredo Teixeira
Viver confinado é, também, uma experiência simbólica. Os primeiros cientistas socias, que estudaram o fenómeno urbano moderno, explicaram como nós, os humanos, usamos estratégias de distanciamento psíquico quando nos falta espaço. Isso explicaria porque se tende para o anonimato nas grandes unidades habitacionais, onde se concentram pessoas, quase sempre num espaço exíguo. Mas os poetas ensaiam outras formas de alargar o espaço da nossa casa. Hoje regressei a um poema da primeira juventude de Daniel Faria (no caso deste autor, todos os poemas são da sua juventude), sobre o qual já trabalhei musicalmente. Não há distância sanitária que limite o êxodo interior:
(PART)IDA
Vou
para um outro
mundo
que não tenha fim
ou uma barca a mais
Vou
para um outro
dia
que não tenha sombras
ou sabor a sol
Vou
para um outro
sonho
que não tenha aves
ou palmas de mãos
(Daniel Faria, in Poesia, Vila Nova de Famalicão: Quasi, 2009.)
Esta é a minha forma de dizer o poema:
Alfredo Teixeira é professor na Universidade Católica e compositor