
Mulher colabora em campanha de vacinação da Unicef no Afeganistão, em 2018. As decisões dos talibãs terão “consequências de longo alcance na prestação de serviços essenciais para crianças e famílias em todo o país”. Foto © UNICEF / UN0202762 / Hibbert.
A Unicef e a Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (Unama) condenaram “veementemente” o recente decreto emitido pelas autoridades talibãs que proíbe todas as trabalhadoras humanitárias de Organizações Não Governamentais (ONG) nacionais e internacionais de trabalharem no Afeganistão.
“Esta decisão é uma violação flagrante das obrigações do direito humanitário internacional e dos direitos humanos fundamentais das mulheres no Afeganistão. Isso acontece poucos dias após a decisão de proibir a todas as mulheres o acesso ao ensino superior”, afirmou a diretora Unicef, Catherine Russel, em comunicado divulgado na página da organização.
A declaração sublinha que, além do óbvio recuo dos direitos fundamentais, ambas as decisões terão “consequências de longo alcance na prestação de serviços essenciais para crianças e famílias em todo o país, em particular nas áreas de saúde, nutrição, educação e proteção infantil”, áreas onde as trabalhadoras humanitárias têm “um papel imensamente importante a desempenhar”.
“Isto – sublinha a diretora do Fundo das Nações Unidas para a Infância – inclui a programação da Unicef, através da qual prestamos serviços a 19 milhões de pessoas, incluindo mais de 10 milhões de crianças, em todo o país”.
Por isso, “a Unicef pede às autoridades talibãs que revoguem imediatamente ambas as decisões, sobre educação superior e sobre o trabalho humanitário, e que permitam que todos os estudantes do sexo feminino retornem à escola e as trabalhadoras das ONG continuem o seu importante trabalho no Afeganistão no setor humanitário”.
Na mesma linha, o chefe da Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão, Ramiz Alakbarov, que coordena a assistência humanitária no país, alertou, na sua conta de Twitter, que “milhões de afegãos precisam de ajuda humanitária e a remoção das barreiras é crucial”, tendo-se manifestado “profundamente preocupado” com a decisão dos talibãs, que considera igualmente uma “clara violação dos princípios humanitários”.
Deeply concerned by reports that de facto authorities issued a circular barring all female employees of national&international organizations from going to work. Clear breach of humanitarian principles. Women critical role all aspects of life& humanitarian response is undeniable
— Dr. Ramiz Alakbarov (@RamizAlakbarov) December 24, 2022
Ramiz Alakbarov reuniu-se esta segunda-feira com o ministro das Finanças afegão, Mohamad Hanif, mas não foram divulgados pormenores sobre o encontro.
A decisão das autoridades talibãs foi anunciada no sábado, 24, pelo Ministério da Economia afegão e afeta todas as organizações não governamentais nacionais e internacionais. Embora não afete diretamente a ONU, impossibilita muitos dos seus programas de ajuda, uma vez que são levados a cabo por ONG afetadas pela medida.
Este anúncio surgiu poucos dias depois de os talibãs terem proibido as mulheres de acederem a educação universitária, o que suscitou críticas da comunidade internacional, incluindo de grande parte do mundo islâmico [ver 7MARGENS].