
André Ventura é o líder do Partido CHEGA. Foto © Voxespaña
A Jornada Mundial da Juventude está a ser utilizada pelo Partido de André Ventura para difundir a mensagem – não fundada em factos – de que há “milhares de peregrinos” oriundos de África e do Médio Oriente cujo rasto foi perdido, sugerindo a ideia de que a JMJ foi um alibi para imigração ilegal.
Recorrendo a reproduções de pretensos títulos jornalísticos cujo grafismo se confunde com o de meios jornalísticos profissionais, como o site da Renascença e o jornal Público, o deputado e presidente do Chega pretende criar a ideia de que esses pseudo-factos são da responsabilidade de meios de comunicação credíveis, e que a matéria só vem confirmar posições da sua formação partidária.
André Ventura, que terá estado ausente na Madeira no período da Jornada, escolheu precisamente o última dia da JMJ – o domingo, dia 6 de agosto – para colocar um tweet na sua página da rede social X (ex-Twitter), o qual ali continua (no momento em que escrevemos), apesar das múltiplas denúncias de que se trata de uma mentira. Nele se pode ver o título (falso) “Milhares de inscritos na JMJ desaparecidos. ‘Imigração ilegal’, diz especialista”. Sem qualquer ligação eletrónica para uma eventual fonte, também a pesquisa nos motores de busca não permite chegar a qualquer sítio da internet. André Ventura acrescentou este comentário. “Nós tínhamos avisado. O Governo não fez absolutamente nada!”.
Nós tínhamos avisado. O Governo não fez absolutamente nada! pic.twitter.com/uSJKeUHDMh
— André Ventura (@AndreCVentura) August 6, 2023
O assunto começou a ganhar interesse público, sobretudo depois de, a 12 deste mês, o jornalista e editor Ivo Neto, do Público, ter chamado a atenção para a gravidade da matéria, na mesma rede social, ao escrever: “Tanto a primeira imagem como a segunda são falsas. Nem o Público nem a Renascença publicaram alguma vez estes textos. Quem partilha isto não é uma pessoa qualquer. É deputado de Portugal e já foi alertado para o facto de estar a partilhar conteúdos falsos. Mas não apagou”.
Tanto a primeira imagem como a segunda são falsas. Nem o @Publico nem a @Renascenca publicaram alguma vez estes textos. Quem partilha isto não é uma pessoa qualquer. É deputado de Portugal e já foi alertado para o facto de estar a partilhar conteúdos falsos. Mas não apagou. pic.twitter.com/G1luABtdmB
— Ivo Neto (@ivocamposneto) August 12, 2023
Dois dias depois, a Renascença escrevia, no seu site, ter sido “alvo de notícias falsas difundidas por André Ventura”, o qual, contactado para comentar, não forneceu qualquer esclarecimento. “Tudo isto é falso. O grafismo é semelhante, mas mesmo o tipo de letra não é o nosso. A Renascença nunca publicou este conteúdo”, afirmou, a este propósito, o diretor de Informação da Renascença, Pedro Leal.
No meio disto, o Correio da Manhã divulgava esta terça-feira, dia 15 de agosto, que Ventura escreveu uma carta ao Papa, pedindo perdão por não ter estado presente na receção oficial que teve lugar no primeiro dia da visita de Francisco, no Centro Cultural de Belém.
O Diário de Notícias, que leu os excertos da carta divulgados pelo CM, refere que Ventura “também tece críticas à Igreja Católica, ao considerar que se comporta como um partido de esquerda na crise migratória e por, segundo o líder do Chega, branquear líderes políticos corruptos como Lula da Silva ou Dilma Roussef”.