Jean-Claude Hollerich

As quatro propostas do cardeal para a reforma da Igreja

| 30 Jan 2022

cardeal jean-claude hollerich foto Comece (1200 x 612 px)

O Cardeal Jean-Claude Hollerich desafia a Igreja a mudar. Foto © COMECE

 

Como ler alguns dos grandes desafios que hoje se colocam à Igreja Católica, como sejam o escândalo dos abusos sexuais, a deserção dos fiéis, o papel das mulheres ou a crise do clero? E que é necessário fazer para lidar com esses e outros problemas?

O cardeal Jean-Claude Hollerich deu, há dias, respostas a vários desses e outros problemas, numa entrevista ao jornalista Loup Besmond de Senneville, correspondente permanente do La Croix International no Vaticano, que desencadeou repercussões um pouco por todo o mundo.

Hollerich é jesuíta, passou uma boa parte da sua vida de padre como missionário no Japão e desempenha atualmente as funções de presidente da Comece (Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia). Foi, entretanto, nomeado relator geral do Sínodo dos Bispos, que teve início recentemente, com a fase diocesana.

O agora cardeal nasceu e trabalha no meio de portugueses, no Luxemburgo. Fala bem a língua de Camões e estava em Portugal, a passar férias, quando, em 2019, o Papa Francisco anunciou a escolha do seu nome para cardeal.

Registam-se aqui, por tópicos e em resumo (ou de forma literal, quando as frases são colocadas entre aspas), alguns dos contributos do cardeal para as reformas que entende serem necessárias na vida da Igreja Católica. A entrevista integral pode ser lida, em português, na página oficial da Arquidiocese de Braga na internet.

 

Descobrir as palavras para dizer a mensagem

 

• ­­Cada vez nos damos mais conta de que “somos e seremos uma minoria” e que “não há receitas mágicas” para o anúncio do Evangelho.

• Nesta cultura do consumo, que “promete satisfazer os desejos humanos, mas não o faz”, as pessoas continuam a ter “perguntas adormecidas” e a “buscar a felicidade, a ter sede de infinito” e a “esbarrar nos seus próprios limites”.

• A mensagem do Evangelho é “excecionalmente fresca para responder a esta busca de sentido e felicidade”. Por outro lado, “o mundo continua à procura, mas já não olha na nossa direção, e isso dói”.

• Não basta querer a toda a força “apresentar a mensagem do Evangelho de tal maneira que as pessoas possam orientar-se para Cristo”, desligadas das profundas mudanças civilizacionais.

• Precisamos de uma nova linguagem, baseada no Evangelho, e definida com a participação de todos (isto é sínodo), já que ninguém entenderá a teologia católica dentro de 20 ou 30 anos.

• Para isso, é preciso trabalhar em rede, os crentes escutarem-se e escutar o Espírito Santo, que é “o mestre da construção”; as coisas não se fazem com ordens de cima para baixo.

 

Mudar a metodologia da ação

 

• Para a mensagem do Evangelho ser escutada é preciso mudar de método, que parta da ideia de que a vida e as pessoas estão no centro e que a Igreja partilha com todos a busca de uma sociedade melhor.

• Para ajudar as pessoas a entender aquilo em que os cristãos acreditam, a Igreja deve entrar num continuado diálogo com aqueles que (já) não são cristãos, ou que o são apenas perifericamente.

• Se os católicos não querem falar para si próprios e escutar-se a si mesmos, é necessário predispor-se a compreender o outro; a escutar as histórias (experiências) dos outros; a fazer pontes com a sociedade;

• Este tipo de caminho pressupõe humildade; a Igreja dá a imagem de “instituição que sabe tudo melhor do que os outros”, mas, sem humildade não se pode entrar em diálogo, porque ela “mostra que queremos aprender deles”.

 

Abusos sexuais na Igreja: mudanças sistémicas

 

• As situações conhecidas em diversos países, que são sempre um escândalo, mostram que não se trata apenas do falhanço de alguns. “Há uma falha sistémica em algum lado, que é preciso tratar” e a Igreja deve ser estruturada de tal forma que essas coisas deixem de ser possíveis.

• Não têm de se temer as feridas que tais medidas podem causar, porque elas “não são absolutamente nada se comparadas com as das vítimas”. Abusar dessas crianças é um crime real. É uma ofensa muito mais grave do que se for um professor ou um treinador desportivo.

• “O facto de os abusos terem sido tolerados para proteger a Igreja, dói. Nós fechámos os olhos! Isso é quase irreparável”. Muitos perderam a confiança e para recuperá-la é preciso ter grande humildade.

• “Se as mulheres e os jovens tivessem mais voz, estas coisas teriam sido descobertas muito mais cedo. Devemos parar de agir como se as mulheres fossem um grupo marginal na Igreja. Elas não estão na periferia da Igreja, elas estão no centro” e, se não tiverem voz “teremos um grande problema”. Mas as mulheres têm sido demasiado ignoradas.

• “Parece-me óbvio que estas questões estarão na mente e no coração de todos, durante o processo sinodal. Precisamos de abraçar a mudança”.

 

Atenção à formação do clero

 

• A formação do clero deve mudar. Não deve centrar-se apenas na liturgia. Leigos e nomeadamente as mulheres devem ter uma palavra a dizer na formação dos sacerdotes. Formar sacerdotes é um dever de toda a Igreja, por isso “toda a Igreja deve acompanhar este passo, com homens e mulheres casados ​​e solteiros”.

• Em segundo lugar, “precisamos de mudar a nossa maneira de ver a sexualidade. Até agora, tivemos uma visão bastante reprimida da sexualidade”. (…) Precisamos de dizer que a sexualidade é um dom de Deus. Sabemos disso, mas dizemo-lo?”

• Algumas pessoas atribuem o aumento do abuso à revolução sexual. É exatamente o contrário: os casos mais horríveis ocorreram antes da década de 1970.

• Nesta área, os padres também precisam de poder, “livremente, sem medo de serem repreendidos pelo seu bispo, falar sobre a sua própria sexualidade” e de serem ouvidos, se estão a ter problemas em viver o celibato.

• “Quanto aos padres homossexuais, e são muitos, seria bom que pudessem falar com os seus bispos sem que estes os condenassem.”

• “Quanto ao celibato e à vida sacerdotal, perguntemos francamente se um padre deve necessariamente ser celibatário. Tenho uma opinião muito favorável ao celibato, mas é indispensável?”

 

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