Clero de Lisboa aponta prováveis sucessores

Novo patriarca a 10 de Agosto, posse dia 2 de Setembro

| 15 Jul 2023

Missa Crismal na Sé de Lisboa. Foto © Patriarcado de Lisboa

Missa Crismal na Sé de Lisboa em tempo de pandemia: o patriarca Clemente espera ser substituído até setembro. Foto © Patriarcado de Lisboa

 

O novo patriarca de Lisboa poderá ser anunciado já no próximo dia 10 de Agosto e a posse ocorrer em 2 de Setembro, garantem ao 7MARGENS várias fontes eclesiásticas. Ou seja, a nomeação oficial pode ocorrer quatro dias após o regresso do Papa Francisco a Roma, depois de presidir aos últimos actos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que decorre em Lisboa de 1 a 6 de Agosto.

Esta informação surge no momento em que o patriarca Manuel Clemente confirma que a sua saída está para breve e em que se prepara um grande almoço de confraternização e despedida do clero do patriarcado, em Óbidos, para a próxima segunda-feira. Entretanto, em entrevista à agência Ecclesia, a propósito dos seus 75 anos (a idade canónica para a resignação), que se completam neste domingo, 16, o cardeal Clemente também diz que espera que o seu sucessor seja nomeado até ao início do novo ano pastoral (isto é, Setembro), deixando a tarefa de renovar a equipa de bispos auxiliares já para o seu sucessor.

O nome do futuro patriarca, que claramente está já escolhido e decidido pelo Papa, permanece, para já, uma incógnita. No entanto, entre o clero de Lisboa apontam-se vários actuais bispos como os mais prováveis sucessores: o arcebispo de Évora (Francisco Senra Coelho), e os bispos do Funchal (Nuno Brás), Coimbra (Virgílio Antunes) e castrense (Rui Valério). A lista de prováveis sucessores incluiria, creem também outros padres, o jesuíta Nuno Gonçalves, reitor da Universidade Pontifícia Gregoriana, em Roma.

Há quem sustente que a nomeação como cardeal do bispo auxiliar e presidente da Fundação JMJ, Américo Aguiar, anunciada domingo passado pelo Papa, poderia significar que o seu nome não estava ainda posto de lado para este cargo. No entanto, há vários óbices a esta interpretação: seria inédito haver dois cardeais na mesma diocese (ainda que um deles emérito), garante um padre – ainda mais, quando os responsáveis de dioceses como Milão e Veneza, tradicionalmente lideradas por um cardeal, estão há anos sem esse título. Outra razão local seria a dos “muitos anticorpos” entre o clero de Lisboa em relação ao bispo da JMJ.

Há ainda quem sugira que o facto de o patriarca ser o magno chanceler da Universidade Católica e Américo Aguiar não ter nenhum doutoramento o inibiria de ser nomeado para Lisboa. Finalmente, o actual prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, cardeal Kevin Farrell, está de saída, pois tomará posse do cargo de presidente do Tribunal de Cassação do Estado da Cidade do Vaticano, o que significa que poderia deixar vago o cargo para o novo cardeal português.

O próprio Américo Aguiar já disse que a JMJ de Lisboa seria a última com o modelo que as jornadas têm tido e que o Papa quer mudar. Por isso, ele poderia ser a pessoa escolhida por Francisco para pôr em marcha o novo modelo de Jornada, substituindo Farrel no cargo. Ou seja, tudo estaria preparado para que Aguiar fosse trabalhar para Roma – afinal, as suas reuniões frequentes por causa da JMJ convenceram Francisco do seu empreendedorismo e, com a nomeação para cardeal, o Papa mostrou que teve em conta apenas a sua intuição.

 

Nuno Brás do Funchal para Setúbal?

bispo do funchal, nuno bras martins, na assembleia da comece, 22 março 2023, foto Comece

O bispo do Funchal, Nuno Brás Martins, na assembleia da Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia, em Março, Foto © Comece.

 

Em relação aos outros nomes de quem se fala, Nuno Brás tem um grupo de clero a seu favor, uma vez que foi reitor do Seminário dos Olivais. Nessa qualidade, lidou com muitos dos actuais padres e foi seu superior, o que lhe dá um ascendente sobre uma franja do clero do Patriarcado. No Funchal, no entanto, vários membros do clero referem episódios de um bispo “irascível” em reuniões de padres, “incapaz” de lidar com a diferença e com uma relação nada empática com a generalidade dos seus presbíteros – a tal ponto que raramente se lhes dirige a tratá-los pelo nome, exemplificava um padre ao 7MARGENS. “O Funchal fica feliz com a hipótese de ele ir embora, o que é triste”, comentava outro: sendo doutorado em Teologia na área da comunicação, “não sabe comunicar”, dizia.

Se não vier para Lisboa, Nuno Brás pode ter a diocese de Setúbal à sua espera: ali, há um núcleo de padres ligados ao movimento Comunhão e Libertação, que entendem a presença da Igreja na sociedade numa lógica de confronto, ideia com a qual o actual bispo do Funchal também sintonizará.

Francisco Senra Coelho, o arcebispo de Évora, lidou bem com a questão dos abusos sexuais, notam entretanto vários padres, pois foi dos primeiros a tomar decisões sobre membros do clero acusados de ter abusado de crianças. Mas há tempos teria confidenciado a vários padres ser ele o futuro patriarca, notícia que o próprio garantiu ao 7MARGENS não ser verdadeira.

Virgílio Antunes, sendo vice-presidente da Conferência Episcopal, poderia ter esse ponto a favor, mas há quem o considere demasiado “discreto” e sem robustez para o cargo de patriarca. E joga contra si o facto de ter estado contra vários aspectos da gestão do Santuário de Fátima nos anos da pandemia, atitude que não foi bem vista, na ocasião, por vários outros bispos [ver 7MARGENS].

 

Rui Valério, a carta fora do baralho?

Rui Valério, bispo Forças Armadas

Rui Valério, actual bispo das Forças Armadas e de Segurança. Foto © Agência Ecclesia/MC

 

Resta o bispo Rui Valério, actual responsável pela diocese não territorial das Forças Armadas e de Segurança. Também neste caso, há padres que lhe apontam debilidades intelectuais e pastorais; outros não gostam que ele apareça com as insígnias militares ao peito, como já aconteceu, ou que tenha celebrado missa com armas militares dentro do espaço litúrgico. Terá a seu favor a simpatia e afabilidade pessoais e a “humildade”. E o facto de surgir como a carta mais fora do resto do baralho poderia fazer dele “o” candidato, acreditam alguns padres.

Do Vaticano poderia vir, no entanto, alguma decisão que saísse fora de qualquer um destes nomes. Mas, a ser verdade que a decisão está tomada, restará esperar mais três semanas para aplacar o nervoso miudinho com que muito clero de Lisboa – e, em menor medida, do resto do país – anda, para lá da preocupação com a JMJ.

Certo é que, com estas andanças, há várias dioceses que, dentro dos próximos tempos, terão de ter um novo bispo: além de Lisboa, Setúbal (à espera há mais de um ano) e Guarda (o bispo resignou em Dezembro) já estão na calha. Terão de seguir-se Beja (João Marcos pediu a resignação por razões de saúde), Portalegre e Algarve (cujos bispos completam os 75 anos em Dezembro e em Agosto de 2024, respectivamente). E ainda novos bispos auxiliares para Lisboa e eventualmente mais um para Braga. Tendo em conta as mudanças do último ano e meio, significa uma Conferência Episcopal alterada, nos nomes e nos cargos, em mais de metade dos seus membros.

Nesta segunda-feira, em Óbidos, estas andanças não deixarão de ser assunto para o almoço e o café dos padres de Lisboa.

 

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