
Dom Stephen Chow Sau-yan, bispo de Hong Kong: “A minha impressão é que a Igreja na China ainda está a estudar o que isso quer dizer. Ainda não chegou a uma conclusão definitiva. (…) Dialogar connosco será importante para que possamos compartilhar com eles o significado e as implicações da ‘inculturação’, o que certamente responde a algumas de suas preocupações sobre a ‘chinesização’.Foto © Vatican News
“A minha perceção é que o Acordo Provisório para a nomeação de bispos não está morto”, contudo “cerca de um terço das dioceses chinesas continua sem pastor”, afirmou em entrevista publicada no dia 12 de maio pela revista dos jesuítas La Civiltà Cattolica o bispo de Hong-Kong, Stephen Chow, após a visita de uma semana à diocese de Pequim.
Chow visitou Pequim a convite do bispo Joseph Li Shan, chefe da Associação Patriótica Católica Chinesa – a igreja que é reconhecida no contestado Acordo Provisório assinado em 2018 pela Santa Sé e pelo Governo da República Popular da China que ambas as partes mantêm secreto apesar de já ter sido por duas vezes renovado. Para o bispo de Hong-Kong “as discrepâncias na interpretação do acordo por parte dos dois lados [Vaticano e Pequim] quanto à nomeação de bispos para outras dioceses podem ser um fator que requer um melhor entendimento”.
A nomeação dos bispos pela Santa Sé (em vez de serem escolhidos pelo regime de Pequim) é um dos “ganhos” obtidos pelo Acordo, mas recentemente Pequim voltou a nomear um novo bispo sem respeitar os termos negociados, originando um protesto veemente por parte da diplomacia vaticana. Os que contestam o Acordo Provisório atacam-no afirmando que através dele se desrespeita a tradição da igreja clandestina, que reúne os católicos sempre fiéis a Roma, para favorecer a Associação Patriótica Católica Chinesa, uma instituição controlada pelo Governo de Pequim à revelia do Vaticano. O Acordo Provisório para a nomeação de bispos tem, no entanto, permitido a nomeação pelo Papa de vários bispos, inclusive, para dioceses em que os católicos chineses viviam de forma clandestina. Os termos daquele documento foram desde o início defendidos pelo Cardeal Filoni, enquanto Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos em entrevista à agência Vatican News e, mais recentemente, o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, considerou [ver 7MARGENS] a renovação do acordo com a República Popular da China como “um compromisso imperfeito”, mas sublinhou os seus frutos positivos: “todos os bispos da Igreja Católica na China ‘estão em plena comunhão’ com o Papa”; O Papa terá “a palavra final e decisiva” nas futuras nomeações de bispos, assim como já a teve nas últimas nomeações; e seis bispos ‘clandestinos’ viram a sua situação oficializada, “passando a ser reconhecidos como bispos pelas instituições públicas”.
Tendo como pano de fundo este longo entendimento / desentendimento entre Pequim e Roma, o bispo de Hong-Kong declarou, na entrevista a La Civiltà Cattolica que “os frutos mais marcantes da viagem são a ligação pessoal entre a liderança das duas dioceses [Hong-Kong e Pequim] e o reavivar da colaboração entre elas em diferentes áreas”, o que “sendo sinceramente desejada por ambas as partes”, se traduz em “esperança e determinação para trabalharmos juntos”.
Respondendo às perguntas da revista, sobre a pressão exercida por Pequim para que a Igreja católica se submeta a um processo de ‘chinesização’, Chow afirmou: “A minha impressão é que a Igreja na China ainda está a estudar o que isso quer dizer. Ainda não chegou a uma conclusão definitiva. (…) Dialogar connosco será importante para que possamos compartilhar com eles o significado e as implicações da ‘inculturação’, o que certamente responde a algumas de suas preocupações sobre a ‘chinesização’. E podemos aprender o que a ‘chinesização’ pode significar para eles.”