O que (quem) vemos, quando olhamos as margens?

| 21 Mar 19

As margens. Quando olho as margens como um desafio, quando elas são um chamamento para sair de mim, do espaço que conheço e que me conhece, e ir mais além (re)encontrar-me na Humanidade do Outro, essas margens valem a pena! Porque essas são as margens que geram a vontade de criar pontes – sem pontes não é possível caminhar para o Outro, sem pontes não acolho e ninguém me acolhe, não abraço e ninguém me abraça.

Quando as margens são vontade de amar o próximo, de o aceitar nas suas fragilidades, nas suas limitações, nas suas diferenças, essas margens valem a pena! Porque essas são as margens que salvam, são as margens em que, quando aporto, encontro novas riquezas e novos sentidos para a minha própria existência; que me fazem olhar com humildade para as outras de onde parti: lá longe, pequeninas e bem menos importantes do que eu pensava que eram quando delas zarpei, tão cheia de certezas sobre o valor moral dos outros.

Mas, se eu olho as margens como linhas de corte, arrogantes e definitivas, que me separam e resguardam do Outro, que posso delas esperar como Pessoa? Se as minhas margens marginalizam, se desdenham, se recusam, se reprovam, que posso eu esperar senão manter-me do tamanho que tenho no sítio de onde nunca saio? Se as margens são muros que afastam, que impedem, que escorraçam, que posso eu esperar do Outro senão medo, mágoa e ressentimento? Afinal, ninguém pode esperar receber mais do que aquilo que está disposto a dar.

No nosso dia-a-dia, faz por isso todo o sentido que nos perguntemos sobre o tipo de margens que vamos tendo uns com os outros. Se são margens que geram pontes, ou se são margens que se transformam em muros. Quando questionados sobre o que achamos correto, facilmente aderimos à retórica da solidariedade e do diálogo. Mas, o que acontece verdadeiramente quando nos cruzamos com pessoas diferentes, que não comungam das nossas ideias, da nossa Fé, das nossas posições ideológicas, das nossas escolhas? Aí, não raras vezes estamos mais dispostos a bater do que a debater, a gritar do que a escutar, a condenar do que a compreender. É verdade que não é fácil (re)aprender a olhar o Outro como irmão e a entender a margem como “Possibilidade”. Mas temos de tentar. Vale a pena tentar. Cristo não temeu a margem: não nos feriu, não nos gritou, não nos condenou, não se envergonhou de nós. Por isso, neste período quaresmal, crentes e não-crentes, tentemos aprender com Ele, com o Seu exemplo, algo que nos ajude a transformar as nossas margens em autênticos encontros com a Humanidade.

Isabel Estrada Carvalhais é Professora associada da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, doutorada em Sociologia e candidata independente do Partido Socialista ao Parlamento Europeu.

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